Parece estar aberta a campanha eleitoral para a Câmara da Guarda com a entrevista que o presidente da distrital do PSD concedeu ao jornal "O Interior". Nesta entrevista defende claramente um programa que contrarie a aposta na Cultura (única área em que a Guarda está vários passos à frente de outras cidades do país): "As obras emblemáticas dos últimos anos foram todas na área da cultura e isso não cria emprego, nem competitividade... Portanto, temos de reverter essas apostas estratégicas da Guarda, que têm que se virar para a promoção do desenvolvimento económico, da sua competitividade e do emprego."
Estas declarações denotam, para já, três factos importantes, quando estamos a praticamente um ano das eleições:
- O presidente da distrital do PSD demonstra um profundo desconhecimento do papel que a Cultura desempenha nas sociedades modernas. Não sabe o que são "cidades criativas" e do desenvolvimento que essas cidades alcançaram por atraírem precisamente empresas ligadas à "indústria da criatividade". Tem ainda tempo para se documentar e visitar algumas delas neste ano que ainda falta até à elaboração de um programa eleitoral (eleitoral, nem sequer digo estratégico).
- "O próximo presidente da Câmara tem que trazer empresas, serviços e emprego". A sua estratégia de futuro para a Guarda passa por tentar apanhar um comboio que a Guarda perdeu faz muito tempo. Quer trazer empresas e serviços quando já não existem empresas e serviços em Portugal. Pelos menos as convencionais: poderia tentar trazer as empresas criativas e inovadoras, mas essas, segundo ele, "não criam emprego, nem competitividade".
- O que se faz no TMG é segundo ele, "muito caro, embora muito meritório". Mas não cria emprego nem competitividade e é preciso reverter essas apostas estratégicas. Ou seja, destruir a única área em que a Guarda se pode realmente continuar a afirmar e a mais reconhecida (porventura mais acarinhada e compreendida fora da Guarda do que cá dentro).
Conhecendo-se estas afirmações, e é bom conhecê-las de forma assim clara, cabe fazer uma pergunta: que tipo de empresas pretende tentar trazer para a Guarda?
Acompanhei as últimas eleições autárquicas neste blogue, faz três anos mais ou menos. Lembro-me que nenhum dos programas eleitorais do PS ou do PSD traziam a despoluição do rio Noéme como prioridade. O candidato do PS referiu-se a essa questão num debate na Rádio Altitude e depois num comício no Rochoso disse "que iria ser resolvido o problema com urgência (cito de cor)". Do candidato do PSD não se ouviu nada sobre o tema e mesmo no Rochoso, apresentou-se aos eleitores e saiu antes sequer de haver perguntas dos presentes.
Como todos sabem a poluição do rio Noéme continua a ser uma realidade. A resolução do problema foi anunciada para o final de 2012, tendo em conta o tempo de execução da obra que estará em curso (tinha sido anunciado que a sua resolução tinha carácter de urgência). A resolver-se este problema concreto e muito grave, será uma vitória da sociedade civil que conseguiu colocar este assunto na ordem do dia e pressionar a Câmara Municipal da Guarda a resolvê-lo.
A resolver-se o problema de poluição do rio Noéme pode abrir-se caminho para uma Guarda diferente. Finalmente amiga do Ambiente, e com possibilidade de, agora sim, trazer projectos e empresas que apostem nesta área e aproveitem as grandes potencialidades que temos. Cultura e Ambiente podem trazer desenvolvimento à Guarda. Ou queremos voltar ao tempo das empresas poluidoras?
Por isso pergunto:
Que tipo de empresas queremos na Guarda?
Qual o papel que o Ambiente deverá ter no futuro da Guarda?