Artigo publicado no Expresso desta semana.
segunda-feira, 27 de agosto de 2012
sábado, 18 de agosto de 2012
"As obras emblemáticas dos últimos anos foram todas na área da cultura e isso não cria emprego, nem competitividade"
Parece estar aberta a campanha eleitoral para a Câmara da Guarda com a entrevista que o presidente da distrital do PSD concedeu ao jornal "O Interior". Nesta entrevista defende claramente um programa que contrarie a aposta na Cultura (única área em que a Guarda está vários passos à frente de outras cidades do país): "As obras emblemáticas dos últimos anos foram todas na área da cultura e isso não cria emprego, nem competitividade... Portanto, temos de reverter essas apostas estratégicas da Guarda, que têm que se virar para a promoção do desenvolvimento económico, da sua competitividade e do emprego."
Estas declarações denotam, para já, três factos importantes, quando estamos a praticamente um ano das eleições:
- O presidente da distrital do PSD demonstra um profundo desconhecimento do papel que a Cultura desempenha nas sociedades modernas. Não sabe o que são "cidades criativas" e do desenvolvimento que essas cidades alcançaram por atraírem precisamente empresas ligadas à "indústria da criatividade". Tem ainda tempo para se documentar e visitar algumas delas neste ano que ainda falta até à elaboração de um programa eleitoral (eleitoral, nem sequer digo estratégico).
- "O próximo presidente da Câmara tem que trazer empresas, serviços e emprego". A sua estratégia de futuro para a Guarda passa por tentar apanhar um comboio que a Guarda perdeu faz muito tempo. Quer trazer empresas e serviços quando já não existem empresas e serviços em Portugal. Pelos menos as convencionais: poderia tentar trazer as empresas criativas e inovadoras, mas essas, segundo ele, "não criam emprego, nem competitividade".
- O que se faz no TMG é segundo ele, "muito caro, embora muito meritório". Mas não cria emprego nem competitividade e é preciso reverter essas apostas estratégicas. Ou seja, destruir a única área em que a Guarda se pode realmente continuar a afirmar e a mais reconhecida (porventura mais acarinhada e compreendida fora da Guarda do que cá dentro).
Conhecendo-se estas afirmações, e é bom conhecê-las de forma assim clara, cabe fazer uma pergunta: que tipo de empresas pretende tentar trazer para a Guarda?
Acompanhei as últimas eleições autárquicas neste blogue, faz três anos mais ou menos. Lembro-me que nenhum dos programas eleitorais do PS ou do PSD traziam a despoluição do rio Noéme como prioridade. O candidato do PS referiu-se a essa questão num debate na Rádio Altitude e depois num comício no Rochoso disse "que iria ser resolvido o problema com urgência (cito de cor)". Do candidato do PSD não se ouviu nada sobre o tema e mesmo no Rochoso, apresentou-se aos eleitores e saiu antes sequer de haver perguntas dos presentes.
Como todos sabem a poluição do rio Noéme continua a ser uma realidade. A resolução do problema foi anunciada para o final de 2012, tendo em conta o tempo de execução da obra que estará em curso (tinha sido anunciado que a sua resolução tinha carácter de urgência). A resolver-se este problema concreto e muito grave, será uma vitória da sociedade civil que conseguiu colocar este assunto na ordem do dia e pressionar a Câmara Municipal da Guarda a resolvê-lo.
A resolver-se o problema de poluição do rio Noéme pode abrir-se caminho para uma Guarda diferente. Finalmente amiga do Ambiente, e com possibilidade de, agora sim, trazer projectos e empresas que apostem nesta área e aproveitem as grandes potencialidades que temos. Cultura e Ambiente podem trazer desenvolvimento à Guarda. Ou queremos voltar ao tempo das empresas poluidoras?
Por isso pergunto:
Que tipo de empresas queremos na Guarda?
Qual o papel que o Ambiente deverá ter no futuro da Guarda?
terça-feira, 14 de agosto de 2012
PROVE na Guarda
Foi apresentado no passado dia 7 de Agosto, na Guarda, o programa PROVE. Trata-se de um programa onde os produtores agrícolas distribuem os seus produtos directamente ao consumidor seguindo uma determinada metodologia. Já aqui tenho referido por mais que uma vez que uma agricultura de proximidade pode trazer nova vida às nossas terras. Por isso é de salientar esta iniciativa.
O filme abaixo apresentado foi realizado pela Mara Gonçalves, a Ana Gabriela Pereira e por mim, no âmbito do programa Europa2111, organizado em Portugal pelo CENJOR, e retrata a conversa que tivemos em Abril passado com algumas produtoras envolvidas no programa PROVE na zona de Setúbal.
quarta-feira, 8 de agosto de 2012
A caneta que assina a lei pode ser tão criminosa como o isqueiro que acende o fogo
Vem isto a propósito de um projecto-lei que o Governo pretende apresentar, que permite a plantação de eucaliptos como se de uma outra árvore se tratasse. Devido às especificidades do eucalipto, hoje em dia é necessário licenciamento para reflorestar áreas ardidas com este tipo de árvore. Isto porque o eucalipto consome mais água, degrada os solos e permite a propagação de incêndios com facilidade.
Se este projecto-lei for aprovado estaremos perante o maior retrocesso na política florestal em Portugal com consequências graves em termos de ambiente e ordenamento do território. Significará a curto prazo o fim da floresta tradicional. Em breve desaparecerão da nossa paisagem os carvalhos, os sobreiros, os castanheiros e outras espécies existentes no nosso território. E é totalmente contrária aquilo que se tem feito em termos de legislação da floresta no resto da Europa.
Sabe-se que o eucalipto é uma espécie rentável no curto prazo. A visão e a estratégia dos nossos governantes não lhes permite ver mais que isso - o imediato. O crime que estão prestes a cometer irá destruir a floresta que ainda existe e pôr em causa a viabilidade de outros sectores como a agricultura ou o turismo.
Defender a floresta portuguesa, e agora está visto que a ameaça não vem só dos incêndios florestais, passa por ordenar a floresta, encontrar os seus donos, mantê-la limpa, defender as espécies endógenas... Legislar e actuar nesse sentido tem efeitos a longo prazo. Muito além da vista dos nossos governantes.
Notas:
1. Pode ler-se no Diário de Notícias um interessante artigo sobre a floresta em Portugal.
2. O comunicado de imprensa da Liga para a Protecção da Natureza pode ler-se aqui.
Agência Portuguesa do Ambiente
Já se encontra online o site da Agência Portuguesa do Ambiente. As atribuições desta nova entidade governamental podem ler-se aqui.
Era ideia do Governo, aquando da tomada de posse, que este organismo reunisse as competências das diversas entidades ligadas ao sector do Ambiente. Na altura escrevi a minha opinião sobre o assunto aqui.
quarta-feira, 1 de agosto de 2012
"Os rios", de João Cabral de Melo Neto
Os rios que eu encontro
vão seguindo comigo.
Rios são de água pouca,
em que a água sempre está por um fio.
Cortados no verão
que faz secar todos os rios.
Rios todos com nome
e que abraço como a amigos.
Uns com nome de gente,
outros com nome de bicho,
uns com nome de santo,
muitos só com apelido.
Mas todos como a gente
que por aqui tenho visto:
a gente cuja vida
se interrompe quando os rios.
João Cabral de Melo Neto
vão seguindo comigo.
Rios são de água pouca,
em que a água sempre está por um fio.
Cortados no verão
que faz secar todos os rios.
Rios todos com nome
e que abraço como a amigos.
Uns com nome de gente,
outros com nome de bicho,
uns com nome de santo,
muitos só com apelido.
Mas todos como a gente
que por aqui tenho visto:
a gente cuja vida
se interrompe quando os rios.
João Cabral de Melo Neto