"Se todos os rios são doces, de onde o mar tira o sal?
Como sabem as estações do ano que devem trocar de camisa?
Por que são tão lentas no inverno e tão agitadas depois?
E como as raízes sabem que devem alçar-se até a luz e saudar o ar com tantas flores e cores?
É sempre a mesma primavera que repete seu papel?
E o outono?... ele chega legalmente ou é uma estação clandestina?"
Expôr o absurdo de existir um rio poluído há mais de trinta anos na Guarda, num Portugal supostamente europeu. Retirar da clandestinidade um local de descargas poluentes frequentes. Dar nome aos protagonistas, às coisas, tornar as situações tema de conversa.
As grandes religiões têm a água como fonte de vida e os rios como lugares sagrados. Qualquer pessoa, mais ou menos devota, mais ou menos apreciadora do belo, mais ou menos sensível, mais ou menos instruída considera um rio poluído um atentado. Uma anormalidade. Uma aberração.
Ainda assim, há quem tome este rio como coutada sua e há quem permita que isso aconteça. Um dia mais em que ocorra uma descarga poluente no rio, é um dia mais em que a Natureza violentada não se regenerará.
Este rio chama-se Noemi e é nosso como o foi dos nossos antepassados. Por ele se iniciou esta luta e continuará. Foi há sete anos, como poderia ter sido há trinta. Continuará enquanto não voltar a ser de todos.