Nas palavras de Mia Couto (numa entrevista a um podcast do Expresso), "pobre é quem perdeu a capacidade de se contar a si próprio". Nada restará se deixarmos de contar a nossa história, de voltarmos ao passado e recordarmos. Recordar para projectar o futuro.
Muitas vezes neste espaço publicámos estórias, fizemos homenagens, partilhámos fotografias e vídeos. Porque o Noemi tem passado e temos de ter a capacidade de o contarmos. Não resolve os graves problemas que existem no presente, mas acreditamos, ajuda a resolver o momento.
Mas também foi um espaço de denúncia, de interrogações de diversa espécie, de provocação... deixou muitas vezes a nu as deficiências do edifício burocrático que sustenta a polis e as instituições, locais e nacionais, que deveriam servir-nos. Em diversas ocasiões pusemos em causa a coerência dos discursos quando confrontados com a prática. O problema saiu da clandestinidade, andou nas bocas do mundo mas continua por resolver. Mudou o poder, continuou o crime ambiental. Ficaram questões por responder, algumas delas em gavetas empoeiradas, a maior de todas "Porque continua poluído há tanto tempo?".
"Tenho esperança que este espaço sirva de denúncias, desperte consciências e seja consequente na resolução deste grave problema ambiental que afecta o nosso concelho.", recordo o que escrevemos há quase 11 anos quando iniciámos este blogue. Lamentavelmente, a última parte não foi cumprida. Chega hoje ao fim o blogue "Crónicas do Noéme" sem se cumprir. Nada temos a acrescentar que justifique continuarmos sem que se tornasse um exercício fútil e de hábito.
"O mais triste, o mais órfão deste mundo é aquele que não tem história". Muitas águas passaram pelo nosso rio e outras passarão. Voltaremos a ser felizes naqueles lugares. Não ficará orfão o Noemi.
Post scriptum: Bem-haja a todos os leitores e amigos que ao longos destes anos suportaram este espaço e das mais diversas formas foram dando ânimo à causa.