O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Mas o Tejo não é mais bel que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é rio que corre pela minha aldeia.
- O Rio que corre pela minha aldeia chama-se Noéme. Está sujo; não tem vida -
Nunca ninguém pensou no que há para além do rio da minha aldeia.
O Rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele.
- Quem polui nunca pensou no que está para além do rio da minha aldeia. Se pensasse não o fazia-
Vem sentar-te comigo à beira do rio
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa e não estamos de mãos enlaçadas.
Depois pensemos que a vida passa e não fica.
Da casa onde nasci via-se perto o rio.
Tão novos os meus pais, tão novos no passado!
E o menino nascia a bordo de um navio
Que ficava à noite no cais iluminado...
- Não passam navios no Noéme.
À sua volta, só os guarda-rios, as rãs e os peixes quando os havia
Mas tem moinhos e pontões
E há anos que seca no estio -
O rio não era rio
Nem corria. E a própria morte
Era um problema de estilo.
- A morte no Noéme não é um problema de estilo.
Acontece todos os dias. Impunemente. -
Crónica transmitida na Rádio Altitude no dia 22 de Junho de 2010.