Saíam da povoação com os cestos carregados de roupa, rumo à ribeira. Mulheres, de cestos à cabeça em equilíbrio absoluto. A roupa, tão diferente da usada em hoje em dia ("camisas de riscado, ceroulas em sarja.."), encardida, negra, grossa, dura como as mãos que tratavam os campos naqueles tempos. Chegadas à ribeira, era tudo espalhado nas barrancas e depois ("compunha-se peça por peça, tudo calcadinho naqueles cestos e colocávamos um pó de oiro, um pano, e por cima a cinza para tirar as nódoas") - estava feita a "barrela". Iam depois aos cabeços buscar feixes de lenha para a fogueira onde, num caldeiro, ferviam a água com sabão. Aí ficava a roupa a amolecer, escondida num qualquer buraco da parede do moínho.
No dia seguinte, esfregava-se a roupa ("havia antigamente um pial junto à Laje de Marco") e era estendida ao sol nas barrancas. Muitas vezes sem companhia, o silêncio só era interrompido pelo movimento de um guarda-rios ou o coaxar de alguma rã. De vez em quando lá se juntava algum rebanho, limpando as fartas margens e quebrando a monotonia do local.
António Gomes: artesão de afetos
Há 7 horas
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