sábado, 30 de maio de 2009

Poema

Na aldeia do Rochoso
Aqui na Beira Interior
Fica o Rio Noéme
Um rio incolor

Em tempos já passados
Muitos meninos lá brincaram
Mas infelizmente
Os tempos já mudaram

Hoje o rio está mau
Muito melhor podia estar
Se não fossem as fábricas
E os esgotos que lá vão parar

A nossa natureza querida
Tem muito que melhorar
Se todos contribuirmos
Estamos a ajudar

Como este, muitos outros
Estão assim neste estado
Tenho a certeza que as pessoas
Não têm o mínimo cuidado

Rios, fontes de água doce
O mais precioso que a natureza tem
Não deite lixo para os rios
Queira ajudar também


Sofia Vargas
11 anos

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Coisas que não me agradam no Noéme

- O cheiro a podre em certos dias;
- O aspecto sujo da água;
- A espuma branca que às vezes se vê;
- A total ausência de vida;
- Não poder molhar os pés na água;
- A falta de interesse das pessoas para a resolução do problema;
- Não saber o que está a ser a feito para resolver o problema;
- Não poder usufruir daquele espaço natural;
- A morte dos ecossistemas a cada dia que passa;
- A falta de esperança de ver o problema resolvido;
- Saber que cada dia que passa com descargas poluentes corresponde a décadas para que o rio volte a ter vida;
- Não haver um plano de ordenamento do rio desde a nascente até que desagua no Rio Côa;
- Saber que ao abrigo de contratos antigos haja quem se dê ao luxo de poluir o rio como se fosse sua propriedade privada;
- Saber que houve tempos em que as autoridades eleitas pelo povo venderam o rio para que fosse fossa de algumas fábricas;
- Não saber porque preço o venderam e para quem reverteu o dinheiro;
- Saber que há quem polua impunemente no nosso país;

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Entrevista (jornal Nova Guarda, edição 01-04-2009)

O link abaixo remete para uma entrevista à dra. Lurdes Saavedra, vereadora com o pelouro do Ambiente da Câmara da Guarda, publicada no jornal Nova Guarda:

http://www.novaguarda.pt/noticia.asp?idEdicao=174&id=11227&idSeccao=2318&Action=noticia

Destaco as perguntas relacionadas com a poluição do Rio Diz (Rio Noéme):

NG - É um problema que se possa aceitar, numa cidade que é capital de Distrito, a poluição do Rio Diz?

LS – Não. Eu não aceito e estou farta de dizer que o pelouro do ambiente, até hoje, fez o que pôde sobre esse assunto mas, já expliquei várias vezes, aquilo que foi possível limpar no rio Diz, está feito. Há descargas pontuais e vão existir sempre descargas pontuais, mas todos os pontos mais preocupantes foram eliminados. Agora, a poluição não é de hoje, não é de ontem, não é de há três anos, é muito anterior. Aquilo que se pôde fazer nestes últimos três anos, fez-se. O rio já tem vida. Até ao Polis, até à Gata, a partir daí, não. Foi permitida a ligação ao rio da fábrica Tavares, é um assunto polémico que não me agrada falar nele, não vou esconder.

NG – Quem é que permitiu essa ligação?

LS – Acontece desde a instalação da fábrica. As datas judiciais falam por elas, as contra-ordenações falam por elas. É uma questão de se consultar o processo, e vê-se quem permitiu, quem deixou, e desde quando. Desde que eu estou no pelouro do Ambiente, que assumi funções políticas, reuni várias vezes com a empresa, com o SMAS, pois este é um problema de ligação de afluentes, o que não tem a ver com este pelouro. Já denunciámos várias vezes a situação ao SEPNA, o SEPNA denuncia à CCDR e quer a Câmara quer a empresa, são multadas.

NG – E não há forma de solucionar este problema?

LS – Há. Neste momento já está orçamentada uma obra, de cerca de 100 mil euros, com a ligação das águas poluentes da fábrica para a ETAR de São Miguel. A obra é da responsabilidade do SMAS.



quarta-feira, 27 de maio de 2009

Interesse jornalístico

A comunicação social local tem dado pouca atenção à problemática da poluição do Rio Noéme. Salvo, uma ou outra coluna de opinião ou alguma notícia pontual (que reproduzirei neste espaço), o assunto não está na agenda noticiosa. Se os políticos não se preocupam com o estado das coisas, gostava de ver a imprensa local cumprir a sua função: abordar o tema, fazer perguntas inconvenientes, investigar, confrontar, chatear os responsáveis - enfim, fazer jornalismo.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Memórias de infância



Era assim a ribeira da minha infância.

Pergunta que eu gostava ver respondida por alguém com responsabilidades

Existe hoje algum tipo de descarga poluente, autorizada ou não, no Rio Noéme?

domingo, 24 de maio de 2009

"E a ribeira, Senhor Presidente?"

Era vê-los chegar em caravana, buzinando, tocando as músicas da campanha. Encostavam no largo e falavam com as pessoas enquanto davam canetas e aventais à porta da Casa do Povo. Chegavam depois os candidatos, ora da situação, ora da oposição acompanhados dos membros da lista para a Junta. Concluído o comício (mais as promessas de construção do polidesportivo na aldeia) surgia inevitavelmente do fundo da sala a pergunta incómoda: "E a ribeira, senhor presidente? Quando a limpam?"

sábado, 23 de maio de 2009

Causas de poluição

A zona da Guarda é uma área de fraca tradição industrial, com ausência total de indústrias pesadas. Na década de 80, instalaram-se (ou foram ampliadas) algumas fábricas de médio porte, quer no volume de matérias tratadas quer no número de trabalhadores. Os resíduos destas unidades eram encaminhadas sem qualquer tipo de tratamento para o Rio Diz, um pequeno curso de água que atravessa a zona suburbana da Guarda e cujas águas são afluentes do Noéme.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Poluição



Quando nos anos 90 já havia indícios claros que a ribeira estava poluída ainda se fizeram poços para abastecer de água o Rochoso.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

E se ainda fosse possível nadar no Noéme?


Esta foto foi tirada na Ribeira, em inícios da década de 70.




sexta-feira, 15 de maio de 2009

Aldeias banhadas pelo Rio Noéme

O mapa abaixo mostra o percurso efectuado pelo Rio Noéme até ao limite do concelho da Guarda (na aldeia do Rochoso). Desagua no Côa, na aldeia do Jardo, já no concelho de Almeida.



"Os Cursos de Água:
O concelho é drenado por três bacias hidrográficas, a saber: Mondego, Côa/Douro e Zêzere/Tejo. A linha divisória das três bacias localiza-se próximo de Vale de Estrela, a cerca de 1000 metros de altitude. A bacia do Côa abrange praticamente a metade oriental do município e é a mais extensa. Como cursos de água principais destacam-se as ribeiras das Cabras e de Massueime e o Rio Noéme (nasce perto de Vale de Estrela). Todos são afluentes da margem esquerda do rio Côa."


[Quero agradecer ao Dr. António Pena a permissão para a publicação do mapa e os textos citados, retirados do livro "Guarda - Um roteiro natural do concelho"]

"Guarda - Um roteiro natural do concelho"

O livro "Guarda - Um roteiro natural do concelho", escrito pelo biólogo António Pena e lançado em 2007, apresenta uma perspectiva do património ambiental do nosso concelho, incluindo naturalmente referência à zona geográfica abrangida pelo Noéme.

"Roteiro Natural do Concelho da Guarda promove património ambiental"


Título: "Guarda - Um Roteiro Natural do Concelho"
Autor: António Pena
Edição: "Câmara Municipal da Guarda"
Ano: 2006

quinta-feira, 14 de maio de 2009

"Diccionário Geográfico das Cidades, Villas e Parochias de Portugal ", 1758 - "Notícia do lugar do Richozo"

As "Memórias Paroquiais" foram um questionário mandado elaborar em 1758 aos párocos das freguesias, pelo Marquêz de Pombal, para avaliar os estragos causados pelo Terramoto de Lisboa. Nalguns casos, tão pormenorizadas são as respostas, que se consegue caracterizar com muito pormenor os lugares mencionados.

Sobre os Recursos Hídricos de cada lugar: "O que se procura saber do rio dessa terra é o seguinte:
1. Como se chama o rio e o sítio onde nasce?
2. Se nasce logo caudaloso e se corre todo o ano?
3. Que outros rios entram nele e em que sítios?
4. Se é navegável e de que embarcações é capaz?
5. Se corre de Norte para Sul, ou de Poente a Nascente, ou de Sul para Norte ou de Nascente a Poente?
6. Se cria peixes e que espécies trás em maior abundância?
7. Se há nele pescarias e em que tempo do ano?
8. Se as pescarias são livres ou de algum Senhor particular em todo o rio ou em alguma parte dele?
9. Se cultivam as suas margens ou se tem muitas árvores de fruto ou silvestres?
10. Se tem algumas virtudes particulares as suas águas?
11. Se conserva sempre o mesmo nome ou o começa a dar só já perante algumas partes, e como se chama nas outras, ou há memória que em outros tempos tenha tido outro nome?
12. Se morre no mar ou em algum outro rio, e como se chama este, e o sítio em que entra nele?
13. Se tem alguma cachoeira, represa, levada ou açude que lhe embarace o ser navegável?
14. Se tem pontes de cantaria? Ou se não: quantas e em que sítio?
15. Se tem moinhos, lagares de corrente, pizões, noras ou outro algum engenho?
16. Se em algum tempo ou no presente, se tentou ou tirou ouro nas suas areias?
17. Quantas léguas tem o rio, e as povoações por onde passam desde o seu nascimento até onde acaba?
18. E qualquer outra coisa notável que não vá neste interrogatório."

O pároco do Richozo respondeu:
"1. Está o dito lugar do Richozo entre duas ribeiras que servem de limite à freguesia. Uma na parte do sul chamada Noémi a qual nasce junto da Guarda e sempre conserva o nome. A outra chamada de Pinhel que tem o seu nascimento junto da vila de Jarmelo e morre com o mesmo nome.
2. Nascem as ditas ribeiras com tão pouco caudal que a de Pinhel quase todos os anos seca e a de Noémi em alguns.
3. Na ribeira de Pinhel entra outra ribeirinha chamada da Ima, as quais morrem ambas junto do lugar de Espinhal.
4. Nada. Ambas as ditas ribeiras como são pobres de caudais não são muito furiosas.
6. Ambas correm de Nascente a Poente.
7. Em ambas se criam peixes pequenos chamados bordalos, em abundância.
8. Nada.
9. As margens das ditas ribeiras são cultivadas em alguns sítios e todas as árvores que nelas há são silvestres e a maior parte são Amieiros e Salgueiros.
10. Nada.
11. Sempre conservam o mesmo nome; não há notícia que tivessem outro.
12. Ambas morrem no rio chamado Côa junto de Pinhel.
13. Nada.
14. Em ambas as ribeiras há pontes que muitos anos as leva a água, por isso se não faz delas menção por serem tão indignas de memória. Somente a Ribeira de Noémi tem uma ponte de cantaria no Sítio da Ponte Pedrinha junto da Guarda e outra ao pé do lugar da Cerdeira.
15. Em ambas as ribeiras há muitos moinhos e povos que usam livremente as suas águas.
17. As ribeiras terão de comprimento cinco ou seis léguas.

Em outros papéis se faz com mais exactidão memória delas.

Richozo o primeiro de Junho de 1758. O Vigário Alexandre da Silva Per.ª"

quarta-feira, 13 de maio de 2009

"Mappa de Portugal Antigo e Moderno", João Batista de Castro, 1763

"Rio Noeime: Nasce junto da Guarda com dous braços: hum deles na fonte Dorna, que corre para Poente, vira para Norte, e depois continua ao Nascente; o outro principia no lugar de Porcas, pela parte Sul e se mete no Rio Côa por baixo da Miuzela: he a informação que nos dá João Salgado de Araújo."

terça-feira, 12 de maio de 2009

Noémi

A história de Noémi, personagem Bíblica, vem contada no livro de Rute. Noémi (casada com Elimelec) e seus filhos vêm-se obrigados a sair de Israel para Moab (na Babilónia). Esta viagem terá sido porventura uma das primeiras migrações relatadas.

Curioso que Noéme (Noémi(?)) seja o nome dado ao Rio que atravessa tantas aldeias que viram os seus filhos partirem para o estrangeiro.

Porque razão as "Crónicas do Noéme"?


O Rio Noéme nasce perto de Vale de Estrela (no concelho da Guarda). Passa pelas localidades de Gata, Vila Garcia, Vila Fernando, Albardo e Rochoso até à Cerdeira (concelho do Sabugal) e desagua no Rio Côa, no Jardo (concelho de Almeida). Em plena cidade da Guarda, junto ao Rio Diz começam os primeiros sinais de poluição que se manifestam ao longo do seu leito. Esta situação é ainda mais grave se pensarmos que esta situação existe desde finais da décade de 80 e a maioria dos seus responsáveis identificados. Pouco ou nada foi feito desde então. Local antigamente aprazível, hoje apesar dos meritórios esforços das freguesias por onde passa tentarem valorizar as suas margens, a água, a flora e a fauna continuam a morrer. Tenho esperança que este espaço sirva de denúncias, desperte consciências e seja consequente na resolução deste grave problema ambiental que afecta o nosso concelho.
E quanto à razão do nome ("Crónicas do Noéme")? muito simplesmente porque, numa atitude positiva e de lembranças, este seja um lugar onde todos possam deixar o seu Testemunho, as suas Memórias e as suas "Estórias" do Rio que é de todos.