terça-feira, 27 de abril de 2010

O desequilíbrio da Natureza

Ano após ano, mês após mês, dia após dia, segundo após segundo, o mundo muda, como uma bola redondinha em eterna evolução. Desenvolve-se a medicina, a astronomia, a astrologia e tantas outras ciências existentes; discutem-se novos direitos e deveres cívicos; descobrem-se planetas fora da nossa galáxia, classificados com nomes complicados; enviam-se naves espaciais para o espaço; descobrem-se novas doenças estranhas e raras mas, enquanto essa parte do mundo civilizado cresce e evolui, uma outra parte, aparentemente oculta, permanece igual.

A verdade é que as tecnologias e os meios evolutivos do Homem não são totalmente benéficos, muito pelo contrário. Têm, por vezes, mais desvantagens do que pontos a favor. É por isso que existem diversas comunidades e movimentos ambientais, com o objectivo de formar uma sociedade consciente que vise encontrar maneiras dinâmicas de desenvolver o planeta e, ao mesmo tempo preservar o que a natureza nos dá e que, consequentemente, não pode evoluir.

Um desses movimentos é, por exemplo, o “Greenpeace”, uma comunidade com reconhecimento internacional que luta no sentido de sensibilizar as pessoas para um mundo melhor e de incentivar pessoas com grande importância política e social a tentar encontrar novas soluções que permitam, ao mesmo tempo, a evolução e transformação da sociedade sem estragar e destruir o que, aparentemente, já não pode evoluir mais.

Sofia Vargas
11 anos

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Chegada da Primavera

Cansada dos dias frios, chuvosos e sem sol, esperava ansiosamente a chegada do dia 22 de Março. Por coincidência ou não, no dia do começo da Primavera fomos presenteados com um ambiente solarengo e sem nuvens, afastando a hipótese de alguma queda de água. Lá fora, a diferença também se fez notar. A erva coberta de orvalho esticava-se ao sol e os cães instalavam-se confortavelmente junto da entrada de casa. As mulheres, atarefadas, aproveitaram para estender a roupa ao sol e sacudir os tapetes dos quartos. Os mais idosos retomaram de novo as conversas à beira das portas e os animais preferiram a erva fresquinha à palha enfadonha, enquanto as crianças aproveitavam os raios de sol.

Algures em Portugal, nasceu um projecto intitulado “Limpar Portugal”. Movidos pelo objectivo de viver num país mais limpo e, consequentemente, mais saudável, muitos foram os que aderiram à iniciativa. Vestiram roupas velhas, fatos de treino, luvas e botas de borracha e aproveitaram o dia tão bonito para porem mãos à obra e fazerem alguma coisa pela pátria. Mas, enquanto limpavam enormes lixeiras e outros derivados da descontrolada actividade humana, alguns sítios permaneceram intocáveis. Rios calmos, mortos e serenos, ao abrigo da solidão, continuaram a correr no seu leito, espalhando o seu odor. Lixeiras nos matos continuaram intocáveis, cartazes rasgados e inutilizáveis voavam ao sabor dos ventos.

É claro que tem que se começar por algum lado, mas não se devem ignorar os locais mais “sóbrios” do nosso país. Talvez um pouco mais de divulgação e exemplos locais tivessem resolvido o problema.


Sofia Vargas
11 anos

domingo, 25 de abril de 2010

Viva a Liberdade!

25 DE ABRIL

Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo

Sophia de Mello Breyner Andresen 

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Interesse pelo Noéme

Deixo aqui o link para o post que Daniel Palos dedica ao Rio Noéme: http://danielpalos.com/blog/?p=369

São excelentes fotos que mostram aquilo que gostaríamos fosse o Rio em toda a sua extensão.

domingo, 18 de abril de 2010

"Bandeira Negra", de Américo Rodrigues


"Diana tinha a minha idade. A mesma idade. Nascemos em 1961. 
Os dois. Trinta e seis anos. Se ela tinha a minha idade, tinha eu a idade dela? 
E que fazer agora com a «nossa» idade? A princesa morreu, a fugir de abutres, segundo se conta. Também eu fujo dos abutres há vários anos. Há tantos que já não sei se não desconte esses anos na minha idade. Os meus abutres são outros, diferentes, de olhos meigos e unhas polidas. 
Por outro lado, pergunto-me se Diana não gostava de ser perseguida por aqueles abutres. Se, de vez em quando, não os convidava para a sua mesa. A verdade é que Diana morreu. Com a minha idade. A mesma que, apesar de tudo, não era igual.

Irrito-me quando um amigo, que não via há várias idades - Diana tinha a minha idade -, que me bate no pescoço, ao de leve, e declara: «O sistema dá cabo de ti!». Fiquei sem saber o que dizer. Que sistema? O sistema nervoso? A idade? Não. A pessoa que me bate na nuca, é um amigo certo. Um amigo que tem uma casa que é um refúgio. Um eremita votado ao futebol pela televisão. Que apenas sai do tugúrio para avisar os amigos de que o «sistema dá cabo» deles. Como eu gosto deste homem!! Não conheço ninguém mais generoso que ele. Vem com estas tretas do sistema mas não sei propriamente o que quer dizer. Saberá ele, ele que tem o dobro da minha idade? Diz sistema como podia dizer «a vida», «o trabalho», «esta merda» ou «a idade». O «sistema» deu cabo de Diana, diria o meu amigo, aquele que foi destacado para me irritar no dia em que uma rapariga da minha idade morreu.

Diana tinha a minha idade. Há muitos anos atrás, teria eu doze anos (os mesmos de Diana, que não sei o que andaria a fazer), fugi de casa, farto de ficar preso às mesas por uma linha de costura. Por uma linha invisível, digo mais tarde num poema. 
Cortei a linha com os dentes. Ninguém o sabia, não queria voltar mais àquela casa. Avanço, como sempre sem olhar para trás, em direcção ao «objectivo» mil vezes desenhado. No rio Noéme, que agora é o esgoto da cidade, havia uma pequena ilhota, dez passos, duas árvores. Nesse dia declarei independente a ilha «Independente», assim chamada em louvor da independência. Comecei por hastear uma bandeira negra na árvore mais alta (como eu gostava de continuar a hastear bandeiras negras?!!). 
Durante sete dias aquele território foi meu, só de liberdade feito. 
A minha mãe, cúmplice, enviava-me mantimentos através de uma pequena jangada puxada à corda. Fiquei ali, enfrentando o frio e as «tempestades», uma semana. O meu pai terá achado graça ao gesto heróico de um rapaz da minha idade. Diana tinha a minha idade. Depois, parece que todos se cansaram. De me alimentar. 
De dizer que na minha idade aquilo até tinha graça. E eu voltei para casa, bandeira negra guardada para a próxima vez.

Diana tinha a minha idade. Quinze anos. Sonhava, provavelmente, em ser princesa. Nessa altura, eu tinha um hábito que, a custo, perdi. Entrava num qualquer automóvel, tinha predilecção por Mercedes, e punha-o a funcionar. Dominava a técnica na perfeição, apesar de ter aprendido sem mestre. Depois, chegado ao sítio apropriado, empurrava o carro, com um enorme prazer, de um precipício qualquer. E ficava a vê-lo rebolar-se por ali abaixo até se incendiar. Fiz isto com, pelo menos, trinta Mercedes. Então a família mandou-me (antigamente era a pedido) para um reformatório. Para aprender a não ter aquela idade. Diana tinha a minha idade; conheceria ela, na altura, a palavra reformatório? Nunca me ouvirão contar o que se passou naquela primeira noite. Noite de dores, de suor alheio entranhado na minha pele. Depois, sabendo quem mandava e quem obedecia (eu obedecia a um tipo da minha idade, com o dobro do meu corpo), integrei-me. Ai que bonita palavra esta!: «Integrei-me». 
Filhos da puta! Qual integração, qual carapuça, qual «sistema??!!. Violência e medo. Muito medo, Diana. Diana tinha a minha idade. Aprendi um ofício, o de marceneiro, que muito útil se tem revelado. Pertenci à banda, a célebre banda do reformatório. Tocava sousafone, às vezes nem sequer podia com ele. No Verão, andávamos de romaria em romaria. O pior era quando nos metiam na cela de castigo, nus, um arganel no nariz. 
Também aí, num dia memorável, hasteei a minha bandeira negra. 
Fui chicoteado dez vezes.

Diana tinha a minha idade. Não conheceu o meu avô Agostinho, pastor. Íamos para os campos de tojos e de pedras que pareciam altares. Dormíamos numa casa de palha. Não tínhamos medo dos lobos nem do «sistema». É que todas as noites o meu avô hasteava a bandeira negra. O avô, que tinha a mesma cara de Agostinho da Silva (não estou a inventar), contava-me histórias de arrepiar. No entanto, depois, dormíamos profundamente. 
Nessas alturas, eu nem sequer tinha idade."


Esta crónica de Américo Rodrigues foi publicada no jornal Terras da Beira na edição de 04 de Setembro de 1997 e está disponível aqui.

sábado, 17 de abril de 2010

Terras da Beira - "Má Língua"


Por diversas vezes critiquei neste espaço a ausência do tema nas páginas daquele semanário.

Hoje digo: bem-vindo à luta!

terça-feira, 13 de abril de 2010

Porque também se fala de temas ambientais nesta crónica

Permitam-me que vos fale de um Plátano.
Quem chega ao Rochoso vindo da Guarda é imediatamente abraçado por este enorme monumento natural. Um abraço de boas-vindas, que o Rochoso trata bem os seus visitantes.
Às comemorações do "Dia Mundial da Árvore" juntaram-se este ano as comemorações do Centenário da República.
A então chamada "Festa da Árvore" foi uma manifestação cívico-pedagógica muito incentivada pelo novo regime com o objectivo de promover os valores ambientais, da cidadania e do ensino.
Pode ler-se o seguinte texto no jornal "O Combate" de 1913: "O Povo Português associando-se com entusiasmo à Festa da Árvore vai provar que ao fazer uma revolução não quis simplesmente mudar de instituições políticas, mas de hábitos e costumes, empregando todos os meios para a sua regeneração social; e o professor tratando de incutir no ânimo dos seus alunos o culto da Árvore mostrará que considera a Educação um complemento indispensável da Instrução".
Sempre ouvi contar que o plátano do Rochoso tinha sido plantado pelos Republicanos da aldeia imediatamente a seguir à revolução. Também sabia que o ensino na povoação tinha grandes tradições.
Confirmei a data do seu nascimento - 01 de Dezembro de 1910 - no seguinte depoimento publicado no jornal "A Guarda":
"Era eu menino e ainda hoje me recordo com emoção do entusiasmo com que o nosso bondoso professor (Francisco António Sanches) preparou a Festa da Árvore. E do ardor juvenil com que a plantámos cantando-lhe hinos e recitando poesias. O professor explicou-nos o significado da plantação da Árvore do Renascimento como símbolo do Portugal renovado".
Desde a Revolução Francesa que a árvore é tida como símbolo da Liberdade. Há 100 anos apelava-se aos valores ambientais que hoje desprezamos. O gigantesco tronco do plátano do Rochoso é um pilar forte da Cidadania. Os seus ramos, braços envolventes.


Crónica transmitida no dia 13 de Abril de 2010 na Rádio Altitude e disponível em: www.altitude.fm

segunda-feira, 5 de abril de 2010

O Noéme está a saque

No início do ano a ribeira estava assim:


No fim-de-semana encontrei o cenário desolador que as fotos abaixo mostram. Não chegavam os poluidores agora apareceram os ladrões de areia. Criminosos sem escrúpulos, sem consciência e com pouca inteligência, que roubaram e destruíram as barrancas da ribeira que devido ao grande caudal que este ano teve juntou grandes quantidades de areia nas suas margens. Chico-espertos que levaram seguramente algumas centenas de metros cúbicos de areia para colocar na economia paralela. Dado o estado em que aquilo ficou poder-se-à deduzir que a areia não foi tirada à pá... há-de ter sido um fartar vilanagem! Até o caminho de acesso à ribeira ficou destruído.

Este crime é tão grave como o da poluição! Mais uma vez o património de todos ao serviço de alguns.

Isto aconteceu debaixo da ponte do Rochoso num sítio de muito fácil acesso. Pergunto-me: por onde andam as brigadas do ambiente da GNR? Fiscalizam mesmo?

Se alguém souber por onde anda a areia contacte as autoridades. Estes gatunos têm de ser punidos. Andamos todos a trabalhar para eles.