Em "Mon oncle" e mais evidente em "Playtime", o realizador francês Jacques Tati fez uma crítica à sociedade capitalista, ao consumo desenfreado, às novas organizações da sociedade e, se quisermos, ao progresso. Não ao progresso que proporcionou a melhoria da qualidade de vida das pessoas, mas aquele que acabou com as experiências autênticas e transformou (destruiu?) os lugares, as memórias, as cidades, tornando-as todas iguais. Monsieur Hulot, o protagonista dos filmes, está lá para nos mostrar isso mesmo.
É ponto assente que o progresso trouxe, por exemplo, saneamento básico e água canalizada à casa das pessoas, retirou gente da pobreza, permitiu o aumento da esperança média de vida ou a circulação rápida de pessoas, bens e ideias. Por outro lado, intensificou a destruição dos recursos naturais e dos ecossistemas com as consequências que hoje estamos a sentir. Destruímos para produzir mais e nem o maior conhecimento que hoje existe parece fazer aumentar a consciência ecológica no sentido de uma mudança efectiva de comportamentos.
E a Guarda? Do ponto de vista ambiental sabe-se que continua a poluir um rio; como cidade comporta-se seguindo lógicas que fizeram moda nos anos 80 sem um bocadinho que seja de inovação. Nas rotundas, iguais em todas as cidades deste país, na manipulação da comunicação, na inauguração com pompa e circunstância das obras para inglês ver, dos sunset e noites brancas... Era, por exemplo, notícia por estes dias de estio, o anúncio da chegada da água a alguns lugares do concelho. Não o deveria ser em 2018!!! Poder e oposição não têm uma ideia que puxe a Guarda para cima e que galvanize os Cidadãos.
Por outro lado, despreza-se o antigo, a memórias, as tradições, aquilo que verdadeiramente nos torna único. Foi também notícia, que o presidente Amaro andava à procura da gastronomia da Guarda ou do padroeiro da cidade. Ele que vá à Biblioteca e consulte os livros e as publicações que em tempos a Câmara Municipal editou e talvez encontre respostas aos seus anseios. Já agora, porque deixou a autarquia de produzir conhecimento? Mas há pedradas no charco: veja-se o intenso e sério trabalho que pessoas como Américo Rodrigues, César Prata e todos os que colaboram no Teatro do Calafrio têm feito na busca das nossas tradições e na sua adaptação à contemporaneidade. Genuínos, sem nostalgia, sem naftalina e sem modernismos bacocos. A não perder o espectáculo "Os Romances da Menda" que irão apresentar em Castelo Mendo no próximo dia 15.
Despertemos enquanto sociedade, sejamos mais exigentes e críticos com o que nos propõem caso contrário acabarão por nos tentar (e conseguir) vender aspiradores com faróis como no filme.
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