quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Trutas

De trutas, dizia Aquilino Ribeiro serem "extraordinários salmonídeos que pediram a casaca aos marqueses de Luís XIV para serem os janotas da água doce". É dito nesta entrevista que há 30 anos o lavadouro não fazia qualquer tipo de tratamento de efluentes e ainda as havia no Côa. Então como hoje.

Pois foi. Esquece-se de referir que foi precisamente nessa altura que morreram todos os peixes do rio Noéme. E como era farto de peixes e de vida o rio Noéme. O meu avô Francisco era o maior pescador do Rochoso e na sua adega não faltavam à mesa, acompanhados de vinho e pimentos curtidos. Há 30 anos atrás começou o calvário do rio Noéme. Até hoje.

Na pré-história do saneamento básico destruíram-se os rios porque o aumento do consumo e a deslocação das pessoas para os meios urbanos  fez com que "(...) todo o esgoto passasse a estar concentrado num único ponto e a descarregar nos rios sem tratamento.", explicou o professor Ramiro Neves numa entrevista publicada aqui em 2011. "O esforço de construção das redes de saneamento e estações de tratamento de resíduos demorou duas gerações a ser concluído. No tempo dos nossos avós não havia poluição nos rios porque não havia canos de esgoto; no tempo dos nossos pais construíram-se as redes de saneamento e poluíram-se os rios; agora estamos a construir ETARs e a despoluir os rios." acrescenta ainda. 

Nessa altura sim, fazia sentido dizer que a Guarda e a sua indústria eram poluidores. Sobre o tratamento de efluentes industrais, ligação às ETAR domésticas e legislação pode ler-se mais na mesma entrevista aqui. O rio Noéme foi durante muito tempo o esgoto da cidade.

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