sexta-feira, 20 de julho de 2012

"Na ribeira deste rio", Fernando Pessoa

Na ribeira deste rio
Ou na ribeira daquele
Passam meus dias a fio.
Nada me impede, me impele,
Me dá calor ou dá frio.

Vou vendo o que o rio faz
Quando o rio não faz nada.
Vejo os rastros que ele traz,

Numa sequência arrastada,
Do que ficou para trás.


Vou vendo e vou meditando,
Não bem no rio que passa
Mas só no que estou pensando,
Porque o bem dele é que faça
Eu não ver que vai passando.

Vou na ribeira do rio
Que está aqui ou ali,
E do seu curso me fio,
Porque, se o vi ou não vi.
Ele passa e eu confio.


Fernando Pessoa

1 comentário:

  1. Um poema bem bonito de que já me tinha esquecido.
    "Ele passa e eu confio". Fixo este verso e digo-o como se fosse uma oração.
    Oxalá o Noéme volte a ser o rio que era.
    Abraço amigo,
    MJM

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