Na semana passada apanhei o comboio regional no apeadeiro do Rochoso com destino a Lisboa. O apeadeiro do Rochoso foi inaugurado a 29 de Abril de 1924 por influência e insistência do Dr. Alberto Diniz da Fonseca que convenceu os responsáveis dos comboios da época da viabilidade e necessidade daquela infra-estrutura. Para isso organizou um retiro da Liga dos Servos de Jesus na aldeia e naquele dia, o comboio parou e dezenas de pessoas desceram. Estava provada a necessidade do apeadeiro! Em finais da década de 80 a CP tentou fechá-lo alegando que não dava lucro. O povo uniu-se, cortou a linha e o comboio só passou porque vinha escoltado pela GNR. No entanto a batalha foi ganha pois, embora com menos paragens, o comboio continua a parar. Acredito que não dê lucro; mas tem um inestimável valor social e esta é a lição que em tempos de austeridade alguns merceeiros que gerem o bem público devem reter. E também que o poder do bastão quase sempre acaba por sucumbir ao poder da razão.
Nesse mesmo fim-de-semana dei uma volta pelos campos do Rochoso. Finalmente tinha chegado a Primavera e a Natureza manifestava-se: de um lado do caminho saltava um coelho; do outro um casal de perdizes. As maias cobriam de amarelo a paisagem e o centeio ainda verde despontava. Pouco centeio infelizmente… que os braços que o ceifavam e malhavam estão já velhos e sem força. Só à volta do Noéme não existe vida. Pressente-se ao longe que ali corre um rio, mas nada se ouve, nada se vê à sua volta.
Ontem poluíram-nos o rio; amanhã se puderem os merceeiros deste tempo retirar-nos-ão mais qualquer coisa. Sempre sob o pretexto que há pouca gente, que não dá lucro… Hoje lutamos por um Rio que não soubemos defender a seu tempo. Amanhã será por outra coisa qualquer. Mas as nossas aldeias não deixarão de existir sem luta.
Crónica transmitida na Rádio Altitude no dia 08 de Junho de 2010.
Sem comentários:
Enviar um comentário