Foi amplamente noticiado na semana passada que as praias fluviais de Aldeia Viçosa e Valhelhas voltaram a receber a Bandeira Azul pela excelência das suas águas e das zonas envolventes. Lê-se na imprensa que Aldeia Viçosa "é muito procurada, com benefícios para o comércio local e aldeias vizinhas (...) e que tem havido o interesse de muitas pessoas em ter uma casa de férias em Aldeia Viçosa.". Já o autarca de Valhelhas diz: "a freguesia tem um dos melhores espaços em termos de turismo e lazer ambiental da Beira Interior”. Um espaço que, segundo o autarca, de Maio a Setembro do ano passado, recebeu mais de 120 mil pessoas, entre utilizadores da praia, campistas e turistas." Estamos a falar de duas freguesias que em conjunto tinham 920 habitantes nos Censos de 2001. Os autarcas orientaram as estratégias de desenvolvimento das suas freguesias para a valorização de um recurso natural que possuem. Esperam (e estão a conseguir) criar postos de trabalho, riqueza e trazar gente para as suas terras. Por enquanto, temporariamente, talvez um dia em definitivo. Estão pois de parabéns as freguesias e o município pelo investimento aí realizado.
As freguesias rurais banhadas pelo Noéme tinham em 2001 cerca de 1500 habitantes. A tendência será esse número descer nos próximos Censos. Foram esquecidas pelo Poder. Um dos recursos que poderia atrair valor a essas freguesias está destruído. Outros, como sejam a agricultura e a floresta, por falta de investimento e de mão-de-obra estão abandonados. Há determinadas zonas cujos acessos às freguesias são miseráveis. As bermas das estradas, completamente descuidadas e sem qualquer limpeza da vegetação, tornam-se combustível para os fogos florestais. Este cenário afasta as pessoas que até no Verão deixam de regressar à origens. Perde-se com isso o Património e a Memória. É comum dizer que o País anda a duas velocidades: neste caso até num concelho pequeno se anda de forma diferente. Muitas vezes para trás.
O Noéme poderia ser uma alavanca de desenvolvimento para estas aldeias. As freguesias recuperaram as zonas envolventes com a esperança de um dia o rio voltar a ser frequentável. O turismo do Noéme nunca poderia ser um turismo de massas. O Noéme teria de ser um local de visita dos amantes da Natureza. Daqueles que andam nos caminhos e querem ser surpreendidos pela fauna; daqueles que procuram recantos mágicos para um mergulho; daqueles que gostam de tranquilamente se deitar à sombra de um amieiro... Mas este perfil de viajante, de caminheiro, de aventureiro existe e um Noéme limpo poderia trazê-lo à Guarda e às suas aldeias. Um Noéme limpo poderia reanimar as agriculturas. Um Noéme limpo poderia trazer gente para o concelho (temporariamente no início; em definitivo talvez) e com isso se ganharia massa crítica. Valor porventura.
Em conclusão: a morte do Noéme não é só um grave problema ambiental e de saúde pública. É um grave problema que pode ser económico também se pensarmos nele dessa forma. É incoerente num concelho que se quer afirmar como destino turístico na zona Centro, longe das praias dos Algarves, deixar ter uma situação dessas às suas portas.O concelho é pequeno e por isso a sua estratégia ambiental (será que tem? ou são só iniciativas avulso) tem de ser coordenada como um todo.
O nosso concelho ostenta hoje três bandeiras: duas de cor Azul e uma Negra! Infelizmente.
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