quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

Os monólogos do presidente

Na série "Sara" (excelente sátira ao mundo da TV e do espectáculo) que a RTP2 transmitiu recentemente, uma das personagens, actriz de novela, dá um conselho a uma actriz consagrada e competentíssima que recentemente chegou ao mundo da TV: "para sobressaíres numa cena tens de ser sempre a última a falar, nem que seja para dizer "pois"." Queria ela dizer que para ganhar protagonismo, devia roubar a cena ao colega, devia saltar por cima do argumento e dizer qualquer coisa para que fosse a última a falar.

Veio-nos isto à lembrança acerca da breve publicada n' O Interior em que se dizia que o presidente da Câmara, em resposta a um vereador do PS sobre o foco de poluição ocorrido recentemente na Quinta da Pocariça, afirmou "que iria multar a empresa quando fosse apurada a responsabilidade" (cito de cor).

A notícia não refere se o vereador da oposição contra-argumentou, se questionou a resposta ou se ficou satisfeito com a mesma. Aparentemente acabou tudo ali. E havia muito para contra-argumentar. Sobre como tenciona responsabilizar os intervenientes, sobre outros focos de poluição, sobre listas de poluidores, sobre estudos de despoluição, sobre trabalhos de despoluição que está comprovado não o serem. Porque não o fez? Por falta de preparação ou terá ficado de consciência tranquila por ter feito a pergunta e daí ter lavado as mãos logo a seguir? Recorde-se que os dois partidos do poder na Guarda têm responsabilidades na poluição do rio Noéme.

Por outro lado, o presidente permite-se responder a primeira coisa que lhe vem à cabeça, sem se rir, sabendo que ninguém o vai rebater. Não é de agora, é de sempre. Comporta-se pois como um mau actor cuja única preocupação é ser o último a falar, nem que seja sempre a dizer "pois". Às vezes nem precisa roubar a cena, basta-lhe aproveitar as deixas que os outros lhe dão. Quanto a esclarecimentos sérios, estamos conversados.

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