3º Interrogatório:
1 - Corre ao pé deste lugar, Vila Fernando, uma ribeira que tem aqui até entrar no Rio Coa por nome Noeime. Nasce esta e tem seu princípio das águas na cidade da Guarda, de todas as suas fontes e das águas de seus arrabaldes e quintas pela parte do Norte e quantas águas na dita cidade e seus arrabaldes chovem vêm passar pela ponte deste lugar. Saindo da dita cidade e seus arrabaldes, vêm correndo amenamente sem estrépito, e até coisa de meia légua, está logo uma ponte de cantaria muito boa a que chamam de Roidis, aonde há já moinhos e vem correndo até uma légua aonde está o lugar da Gata, freguesia do Casal Cinza, e se chama aqui a Gata. Aqui tem umas poldras de pedras por onde se passa. Tornemos à cidade da Guarda: à parte do Sul as águas de duas fontes que chamam o Chafariz de Santo André e a Fonte de Mour (...) e as mais águas da parte do Sul dos seus arrabaldes, e as águas que vêm do lugar de Porcas, que dista uma légua da cidade; junto destas águas vai correndo amenamente, sem estrépito, e já moendo moinhos com a água deste ribeiro; a coisa de meia légua está uma ponte pequena de pau, e logo abaixo está uma quinta chamada Noeime, e daqui tomou este nome daqui para baixo, e daí, coisa de meia légua, tem uma ponte de cantaria muito boa, e daqui vai correndo até se juntar com a outra (?) que vem da parte Norte da minha cidade a que chamam a Gata, como acima vai escrito, e neste sítio, antes de se ajuntarem, está um pontão de pau a que chamam o Mouratão, por estar aqui uma quinta do mesmo nome, e juntos eles vêm correndo com brandura até se meterem no Coa por ser tudo terra direita, e por este curso ter muitos moinhos, e chegando a perto do lugar do Carapito tem um pontão de pau, e mais abaixo, junto de Vila Garcia, tem outra ponte de pau, e continuando com moinhos, e chegando a este lugar que dista dele um tiro de pedrada, tem uma ponte com jazentes de pau e coberta de pedras, e tem de comprimento 75 palmos que eu medi, e terá o que toma e oclusa a água nos enchentes mais de 200 passos, e esta tem seis olhais, e muitas vezes cobre a água a maior parte da ponte; e continuando os moinhos daqui para baixo que são muitos, mas no Verão secam estas águas e não moem, e suas águas não aproveitam palmo de terra que reguem, e nas tempestades passadas deu muitas perdas às terras que levou e inundou com areias, e daqui três léguas se vai meter no Rio Coa, com o nome de Noeime.
É esta igreja de Vila Fernando aro, termo e comarca da cidade da Guarda, que dista duas léguas para a parte do Poente, muito espalhada, que se compõe de oito lugares como acima declaro, e tem 406 fogos, 1009 pessoas de confissão e comunhão, e 210 de confissão somente, e todos a esta igreja matriz e paróquia se vêm a baptizar, receber e confessar no tempo da Quaresma. Eu, pároco dela, me chamo Policarpo da Cruz, natural da vida de Açores, arciprestado da vila de Celorico, bispado da Guarda, e nesta cidade me criei e dela vim para esta igreja há 38 anos. Tenho de idade 73 anos. Isto é o que pude descobrir.
Vila Fernando, 22 de Maio de 1758
O Padre Policarpo da Cruz
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