Não preciso aproximar-me com dois passos vacilantes
tenho ainda tempo de vos enviar um vislumbre
do fogo do meu rio
onde os animais se desalteram
onde as estrelas da noite ainda cintilam
e os frémitos dos pássaros agitam as cinzas e as pedras
Este rio tem o suor do meu sangue
mas também a luz frágil das minhas feridas
que desce os declives verdes
e ascende pelo espaço
entrando na nebulosa do vento
e indefinidamente
como a respiração do mundo
dissemina nos bairros o seu fogo vivo
Esse vislumbre vem de um país ferido
desconhecido
vem do homem que vos escreve
porque não tem qualquer mensagem para vos dar
O meu vislumbre
não é o sinal com um sentido
é um poema
que ninguém pode soletrar
como um abecedário
podem lê-lo claramente
à luz da sua claridade indefinível
As vossas portas hão-de ficar inteiras
mas este vislumbre será para vós inesquecível.
António Ramos Rosa
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