sexta-feira, 26 de julho de 2019

Causas da Decadência da Guarda nos Últimos 40 Anos

Puxa o título à célebre conferência de Antero de Quental, mas as duas crónicas publicadas no jornal O Interior (coincidentes na mesma edição) explicam cada uma à sua maneira o estado da Guarda em 2019 (os sublinhados são nossos).

Na primeira, chamada "Rota Final" de António Ferreira, este parágrafo diz tudo:

"Num concelho pobre e envelhecido do interior, de onde fogem os jovens e onde morrem cada vez mais velhos, pouco se tem feito para inverter a tendência para a entropia. Mas gostamos de festas, de flores nas rotundas, de obras de fachada. É como se o presidente da Câmara de Berlim, em 1946, tivesse como prioridade assinalar faustosamente o solstício de verão e os berlinenses aplaudissem. Entretanto, ao longo dos últimos quarenta e tal anos deixámos fugir uma universidade para a Covilhã, que recebeu também o Data Center da então PT, com o argumento insultuoso, para nós, de ser “necessário ficar num sítio onde esteja frio”, vimos Viseu e Castelo Branco ganharem-nos em importância, em qualidade de vida. Continuamos sem um parque industrial onde as grandes empresas queiram estar, não conseguimos atrair investimento, empregos, ou dar um futuro, aqui, aos nossos poucos jovens. Nem sequer temos um clube de futebol na IIª liga, ou até na terceira divisão. 
Mas tivemos dois presidentes de Câmara a braços com a justiça. Ambos eleitos com maiorias absolutas, em vitórias inequívocas. Isto já é mais castigo do que má sorte, e os castigados somos nós.


A segunda, "Aldeia da roupa branca" de João Correia segue a mesma linha de raciocício:

"O 2020 que financia empresas e inovação já aprovou muitos milhões para projetos de Braga a Bragança, passando pelo Porto, Aveiro e Évora… Empresas que vão dos componentes automóveis, passando pelo papel e turismo, terminando nos aviões… Para quem aposta num “cluster” automóvel na Guarda precisaria de estar no top dos financiamentos, mas não, na zona Centro, onde o apoio comunitário atinge os 1.378 milhões de euros, ocupamos a posição 15 numa lista de 18, encontrando atrás do nosso concelho, em relação ao investimento elegível e ao apoio comunitário, Oliveira do Bairro, Anadia e Fundão. Só para que conste os concelhos que ocupam os três primeiros lugares são Leiria, Coimbra e Aveiro*.
Enquanto uns se satisfazem com pequenos projetos engavetados desde há muito, ou com a chegada de uma qualquer locomotiva a uma qualquer rotunda, ou com umas alegrias monocromáticas em noite de Verão, outros chamam a si projetos que captam dinheiro, tecnologia e muito emprego diferenciado.


Fazemos a síntese dizendo, as causas da decadência da Guarda são também as causas da decadência do rio Noemi e é por isso que continua poluído e o crime ambiental persiste. Culpados há muitos, arguidos é que não.

quinta-feira, 25 de julho de 2019

"Cidadãos estão a criar uma reserva natural para a vida selvagem em Coimbra", in Wilder.pt

"Em cerca de um hectare de floresta de carvalhos e castanheiros está a ser criada uma reserva natural local para a lontra, o texugo, o corço, a salamandra-lusitânica e dezenas de outras espécies.", pode ler-se neste artigo.

quarta-feira, 24 de julho de 2019

"Mundo pequeno", de Manoel de Barros

I

O mundo meu é pequeno, Senhor.
Tem um rio e um pouco de árvores.
Nossa casa foi feita de costas para o rio.
Formigas recortam roseiras da avó.
Nos fundos do quintal há um menino e suas latas
maravilhosas.
Todas as coisas deste lugar já estão comprometidas
com aves.
Aqui, se o horizonte enrubesce um pouco, os
besouros pensam que estão no incêndio.
Quando o rio está começando um peixe,
Ele me coisa
Ele me rã
Ele me árvore.
De tarde um velho tocará sua flauta para inverter
os ocasos.

II
Conheço de palma os dementes de rio.
Fui amigo do Bugre Felisdônio, de Ignácio Rayzama
e de Rogaciano.
Todos catavam pregos na beira do rio para enfiar
no horizonte.
Um dia encontrei Felisdônio comendo papel nas ruas
de Corumbá.
Me disse que as coisas que não existem são mais
bonitas.

III
Caçador, nos barrancos, de rãs entardecidas,
Sombra-Boa entardece. Caminha sobre estratos
de um mar extinto. Caminha sobre as conchas
dos caracóis da terra. Certa vez encontrou uma
voz sem boca. Era uma voz pequena e azul. Não
tinha boca mesmo. “Sonora voz de uma concha”,
ele disse. Sombra-Boa ainda ouve nestes lugares
conversamentos de gaivotas. E passam navios
caranguejeiros por ele, carregados de lodo.
Sombra-Boa tem hora que entra em pura
decomposição lírica: “Aromas de tomilhos dementam
cigarras.” Conversava em Guató, em Português, e em
Pássaro.
Me disse em língua-pássaro: “Anhumas premunem
mulheres grávidas, 3 dias antes do inturgescer”.
Sombra-Boa ainda fala de suas descobertas:
“Borboletas de franjas amarelas são fascinadas
por dejectos.” Foi sempre um ente abençoado a
garças. Nascera engrandecido de nadezas.

IV
Descobri aos 13 anos que o que me dava prazer nas
leituras não era a beleza das frases, mas a doença delas.
Comuniquei ao Padre Ezequiel, um meu Preceptor, esse gosto esquisito.
Eu pensava que fosse um sujeito escaleno.
– Gostar de fazer defeitos na frase é muito saudável, o Padre me disse.
Ele fez um limpamento em meus receios.
O Padre falou ainda: Manoel, isso não é doença,
pode muito que você carregue para o resto da vida um certo gosto por nadas…
E se riu.
Você não é de bugre? – ele continuou.
Que sim, eu respondi.
Veja que bugre só pega por desvios, não anda em estradas –
Pois é nos desvios que encontra as melhores surpresas e os ariticuns maduros.
Há que apenas saber errar bem o seu idioma.
Esse Padre Ezequiel foi o meu primeiro professor de
gramática.

V
Toda vez que encontro uma parede
ela me entrega às suas lesmas.
Não sei se isso é uma repetição de mim ou das lesmas.
Não sei se isso é uma repetição das paredes ou de mim.
Estarei incluído nas lesmas ou nas paredes?
Parece que lesma só é uma divulgação de mim.
Penso que dentro de minha casca
não tem um bicho:
Tem um silêncio feroz.
Estico a timidez da minha lesma até gozar na pedra.

segunda-feira, 22 de julho de 2019

"Polícia Marítima investiga descarga suspeita no rio Douro", in revista Sábado

Descargas poluentes em rios, um pouco por todo o lado. Desta vez no rio Douro, como noticia a revista Sábado.

sexta-feira, 19 de julho de 2019

Trump visita Portugal (4)

A Agência Reuters deu conta que a Bolsa de Nova Iorque fechou no vermelho, devido ao impacto do último tweet do presidente Trump. 

Ao verem as imagens de poluição do rio Noemi e o que Trump escreveu, o mercado começou a desfazer-se em massa dos títulos ligados a empresas tecnológicas da área do ambiente. 

quinta-feira, 18 de julho de 2019

Trump visita Portugal (3)

Trump publicou uma imagem de descarga poluente no rio Noemi com a seguinte legenda: 



"Se este é o segredo do crescimento económico português e da prosperidade da Guarda, vamos fazer o mesmo: Make America Great Again".


quarta-feira, 17 de julho de 2019

Trump visita Portugal (2)

A mesma fonte, próxima da Casa Branca, indica que antes de se deslocar à Guarda irá reunir com os Ministérios da Economia e do Ambiente impondo que os poluidores do Noemi não sejam alvo de qualquer sanção.

terça-feira, 16 de julho de 2019

"Nova Deli, a capital onde os ricos regam a relva e os pobres lutam por uma gota de água", in Público

"Os políticos, funcionários públicos, funcionários de grandes empresas e lobistas que vivem em boas casas e apartamentos no centro de Nova Deli têm acesso ilimitado a água canalizada – para as suas casas de banho, cozinhas, para lavarem os carros, os cães ou regarem os seus relvados. Conseguem fazer tudo isto por dez ou 15 dólares por mês.

Mas entre-se num dos bairros de lata no centro da cidade ou num dos gigantes e desorganizados bairros das periferias e assiste-se a uma luta diária para conseguir e pagar por uma muito limitada quantidade de água, que é fornecida por camiões cisterna e não por canalizações. E o preço está a subir, à medida que os fornecimentos escasseiam.", pode ler-se na notícia.

Existindo como se sabe poluidores que continuadamente poluem, que obtêm privilégio indevido das águas face à restante população, não estaremos perante uma situação parecida a esta no rio Noemi?

segunda-feira, 15 de julho de 2019

“E se Portugal fosse a Amazónia que precisamos salvar?”, in Diário de Notícias

Chapeau!
Não acrescento nem mais uma palavra a esta crónica de Daniel Deusdado.

domingo, 14 de julho de 2019

A culpa não é das lavadeiras do Noemi

 Estas fotos foram tiradas no dia 12 de Julho, no Rochoso:




sábado, 13 de julho de 2019

Trump visita Portugal (1)

Fonte do blogue adianta que estará poucas horas em Portugal, tendo prevista uma deslocação à Guarda para dar um abraço solidário aos poluidores do rio Noemi.


sexta-feira, 12 de julho de 2019

Tríade de rios

Avança a notícia do jornal online “Observador” que irá ser inaugurada a praia fluvial da Barragem do Caldeirão. O artigo conclui da seguinte forma:


E se o rio Noemi estivesse despoluído? Nessa distopia, a Guarda poder-se-ia apresentar como a Cidade dos 5 F e o concelho dos 3 rios: Zêzere (que vai ter ao Tejo), Mondego e Noemi (que vai acrescentar o Côa). 

Tão fácil e até nos pouparia a slogans bacocos.

segunda-feira, 1 de julho de 2019

"Os Verdes" questionam novamente o Ministério do Ambiente

O Partido Ecologista "Os Verdes", recorde-se sem nenhum deputado eleito no distrito da Guarda, faz uso das disposições da Assembleia da Republica para questionar o Governo sobre a poluição do rio Noéme.

Desta vez foram colocadas as seguintes perguntas como se pode confirmar nesta ligação: