sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Em dia de aniversário da Cidade

Uma boa prenda para os Cidadãos do Concelho seria a despoluição do rio Noéme. Houvesse vontade.

domingo, 22 de novembro de 2015

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Adoptemos um deputado

Eu já adoptei o meu, chama-se Carlos Peixoto, foi eleito pelo PSD e disse na última campanha que não conhecia o problema de poluição do rio Noéme. Também disse que não tinha recebido nenhum pedido de esclarecimento sobre o caso, o que não é verdade porque lhe coloquei três perguntas sobre o assunto em Setembro.

Assim sendo, comecei por enviar-lhe as respostas às questões colocadas pelo Partido Ecologista "Os Verdes" na Assembleia da República na última legislatura, onde ele já se encontrava como deputado e aparentemente não se deu conta que houve alguém interessado nos problemas do círculo eleitoral pelo qual foi eleito.

domingo, 15 de novembro de 2015

Guarda os produtos de cá - 1 ano na rua


Faz hoje 1 ano que foi apresentado ao público o livro "Guarda os produtos de cá". Recordo as palavras amigas de Mário Martins, que teve a amabilidade de fazer a apresentação do livro na Biblioteca Municipal Eduardo Lourenço, 

"Boa tarde a todos.

É sempre um prazer estar na casa dos livros, acrescido aqui do prazer de estar no meio de pessoas que gostam de livros.

Há convites que não posso recusar, mesmo que a tarefa pareça exceder a competência, por uma questão de coerência, mas também, por uma questão de prazer e paixão, prazer de estar nas lutas pelo mundo rural, é aí onde se encontram as pessoas mais fragilizadas, mas também mais lutadoras, e paixão pelo campo, pela agricultura, pela defesa do ambiente, pela defesa da nossa paisagem, pela defesa das nossas aldeias, pela defesa da nossa produção familiar, pela defesa da nossa soberania alimentar, pela defesa da Guarda, da região e do país.
Neste ano, designado Ano Internacional da Agricultura Familiar, vem a talho de foice apresentar um livro sobre a produção no mundo rural.
Nunca tive jeito, nem vontade, para homilias laudatórias, também não era esse o propósito do convite.
Vou trazer-vos uma visão necessariamente heterodoxa de um camponês a ler entrelinhas, e muito há nas entrelinhas desta obra.

E, porque estamos a falar de agricultura, antes de iniciar a apresentação propriamente dita permitam-me pedir-vos um grito de protesto e indignação, um minuto de silêncio por Marinalva Manoel-27 anos-líder dos Kaiowá, lutadora incansável pelo direito às terras dos seus antepassados, contra a devastação criminosa da floresta amazónica, bárbara e sadicamente, assassinada na madrugada de 1 de Novembro, pelos esbirros ao serviço do agro-negócio.
Muito obrigado.

Os livros, a cultura, as artes, sobretudo num tempo em que uns quantos psicopatas agressivos e com ânsias de prestígio social, e poder, numa situação de desespero, se penduram nos ponteiros do relógio do tempo, tentando pará-lo, ou mesmo atrasá-lo, os livros, a cultura, as artes, dizia, só se realizam completamente como contra-poder. Por isso um agradecimento especial a Márcio Fonseca por ir à procura dos produtos da Guarda, e tantos e de excelente qualidade eles são, e colocá-los à frente do nariz do poder, quando esse poder está apostado em ignorá-los e exterminá-los.
Márcio Fonseca, o autor da obra que hoje vos venho apresentar, nasceu no Rochoso há 35 anos, é editor do belogue “Crónicas do Noéme”. Tem diversas colaborações na imprensa e, sempre atento à sua terra publicou os livros “Orações Populares do Rochoso” e “Irmandade das Almas do Rochoso-Notas de Um Arquivo desconhecido”. É formado em Engenharia Informática pelo Instituto Superior Técnico. Frequentou diversos cursos na área do jornalismo no Cenjor – Centro Protocolar de Formação Profissional Para Jornalistas. Diz-se beloguer de causas perdidas, não, não há causas perdidas enquanto se luta por elas.
Márcio Fonseca diz-se “lavrador de nascença”, nasceu e cresceu no campo, observador atento dos trabalhos agrícolas, sente um forte apelo das origens e aí regressa sempre que pode.
É um activista empenhado, pelo ambiente, natureza, biodiversidade, pela vida.
Guarda, Produtos de Cá, seria bem melhor apresentado lendo o prefácio do autor. Aí encontramos um conhecimento, bem fundamentado, do caminho que tem percorrido a agricultura, os problemas actuais e as melhores soluções propostas pelos movimentos de agricultores.

Os livros não podem ser doses empacotadas de refeições pré-mastigadas. A alimentação do espírito deve vir agreste, como a paisagem serrana, provocante como uma mulher guerreira sob um manto diáfano, sedutora e enigmática como um tesouro escondido e pintado em cores vivas como um quadro que nunca conseguimos admirar totalmente.


Guarda, Os Produtos de Cá tem algo de tudo isto.

À primeira leitura colhemos a informação dos produtos da região e deixa-nos a vontade irresistível de voltar a lê-lo.
Quando a ele voltamos apreciamos a oportunidade e liberdade deixadas pelas perguntas do entrevistador, mas bem encadeadas e imaginadas por alguém que conhece bem o campo, a produção agrícola, os seus problemas.
Perguntas inteligentes deixaram aos entrevistados todo o espaço de manobra para expressarem as suas ideias.
Ali estão experiências de vida, desejos, queixas, base para uma reflexão bem mais profunda sobre o caminho que levamos, para onde queremos ir, qual o futuro da nossa agricultura, da região e, principalmente, o futuro das gerações vindouras.

Guarda, Produtos de Cá, aborda uma amostra alargada, e bem significativa, do que cá se produz.
Vai do queijo ao mel, passando pelas aromáticas, vinhos, azeites, ou mesmo os modernos e tão na moda mirtilos, sem esquecer as castanhas, morangos, amêndoas, o burel, ou a emblemática morcela.
Cada entrevista é precedida de uma citação, sempre oportuna e bem a propósito, até Gil Vicente. Hoje a Barca do Inferno teria de ser bem maior.
Uma ideia é comum a quase todos os entrevistados:
O abandono a que os sucessivos governos têm votado a agricultura, a agricultura familiar, o campo, o interior. É também bem evidente que as críticas tendem a diminuir com o aumento da dimensão da exploração agrícola.
Sempre se disse que a agricultura era a forma de empobrecer alegremente. Tem sido a forma de empobrecer, hoje já não alegremente, miseravelmente, retirando-lhe as condições mínimas para poderem produzir e vender, os que trabalham, às vezes não de Sol a Sol mas de noite a noite, sem domingos, sem feriados, sem férias, a agricultura é um trabalho a tempo inteiro na verdadeira acessão da expressão, para enriquecer agiotas e exploradores sem escrúpulos.
Esta é uma situação propositada, calculada e aplicada ao milímetro.
Não se pode continuar a deixar apodrecer os nossos produtos, de excelente qualidade, e importar os dos outros, cultivados em grandes empresas de agro-negócio, intensivamente, cheios de fito-fármacos, colhidos antes da maturação, deteriorados pelo transporte e carregados de nutrientes químicos. Não podemos continuar a permitir que se destrua a nossa produção para favorecer países terceiros.
Já passaram pelo poder vários governantes com carta de coveiros, todos eles têm sido “enterrados”, salvo seja, antes do pretenso morto para o qual abriam afincadamente a cova.
Transparece claramente dos diálogos, a agricultura é uma paixão, é um apelo da natureza, é uma forma de estar, e isso não se derrota.
A agricultura familiar sobrevive há séculos, continuará contra ventos, intempéries, legislação criminosa, incompetência governativa e interesses agiotas.

Guarda, Produtos de Cá é um grito da terra.
Ali está bem expresso um passado de miséria, fome, exploração, escravatura, tirania, caciquismo, feudalismo recente; o retrato dum presente de luta; caminhos para um futuro mais solidário e fraterno onde se possa produzir e vender.

Este livro vem provar, através da voz de alguns entrevistados:

O poder não está, nem esteve, com os agricultores, nem com a agricultura. O poder está e esteve sempre com a classe dominante, com os interesses dos amigos, padrinhos e afilhados. Veja-se, num país dependente, em mais de sessenta por cento, da importação de produtos alimentares, o governo incentiva e promove, não a plantação de batatas, ou couves, ou cereais, incentiva e promove a plantação de eucaliptos. Isto é um contra-senso, para lhe não chamar um crime, atenta contra a soberania alimentar do país, e sem soberania alimentar não há soberania política, e contra a natureza, o ambiente, a qualidade de vida e promove, ainda mais, a desertificação. Atenta mesmo contra a racionalidade. O eucalipto é um grande consumidor de água, mas não só o eucalipto, as exóticas que por aí se incentivam consomem quatro e cinco vezes mais, para ser comedido, do que as espécies autóctones, bem adaptadas ao clima e solo, para além de ser discutível o seu interesse e necessidade. A água que chega a Portugal através da rede hidrográfica, depende, em mais de setenta por cento, da boa vontade de Espanha e de um tratado de garantia de caudais. Quando a carência começar, e ela está aí à porta, Espanha reduzirá necessariamente os caudais. Como se sustentará esta agricultura destruidora, agressiva e pouco inteligente? Que futuro terá? Vamos regar os eucaliptos e as exóticas ou as frutas e legumes. Vai haver água para beber?

Quem trabalha e vive no campo é quem conhece os problemas, as necessidades e as soluções.
Nunca serão os agricultores absentistas, os agricultores de poltrona e ar condicionado, os agricultores de gravata, a resolver os problemas da agricultura familiar, dos pequenos e médios agricultores.

As soluções têm de ser encontradas por quem tem os conhecimentos práticos ou, pelo menos, com quem tem os conhecimentos práticos.

Não desdenhamos do apoio técnico, nem da investigação científica, temos óptimos técnicos, raramente são os que ascendem ao poder mas, como diz o uruguaio Eduardo Galeano, ou Noam Chomsky norte-americano, para ir ao ventre da besta, seria demasiada ingenuidade, da nossa parte, acreditar que o sistema capitalista nos daria informações, ou formação, que o pudessem prejudicar, ou pôr em causa.
Devemos portanto desconfiar da informação impingida pelo sistema, mesmo a dita técnica, ou se calhar ainda mais desta, como desconfiamos do charlatão que nos vem vender o pó para os calos ou a banha-da-cobra.
Não podemos esquecer que , a situação em que se encontra a agricultura, foi sempre apoiada , ratificada e provocada por aquela formação e informação.
Se é verdade necessitar a agricultura, para progredir, apoio técnico e investigação, não é menos verde que, nenhum povo pode dispensar, ou sequer ignorar, milénios de conhecimentos acumulados pelos agricultores, o tal saber de experiência feito, testados e aperfeiçoados no dia a dia.

Deixem-me aqui intrometer uma pequena história sobre cogumelos, agora época deles por excelência:
Ali pela meada da década de oitenta havia uns programas do IEFP de aproximação dos jovens à vida profissional. Várias entidades públicas participavam entre elas as chamadas Administrações Florestais.
No fim do programa, aí por Outubro, fazia-se um convívio sempre numa Casa da Floresta.
Guarda Florestal, e outros curiosos, levávamos os jovens a colher cogumelos. Dos recolhidos, quase sempre numa panela de ferro e ao lume, fazia-se um petisco.
A Administradora Florestal mudou, mudaram-se as vontades, e foi convidado um técnico especialista para nos acompanhar na recolha dos fungos. Ouvimos longas e doutas explicações sobre cogumelos.
Quando, ao fim da tarde, convidámos o tal técnico para participar no petisco, tudo eram desculpas, perante a insistência prontificou-se então, com a douta e técnica desculpa de que se não deviam misturar tantas variedades de cogumelos, a escolher alguns para confeccionar, os mais conhecidos claro, lactários, tricholomas e boletos.
Parecia resolvida a questão, não, tanto azar que passou,como bom, um “boleto de fel”. São amargos como rabo-de-gato.
Só não ficámos sem petisco porque, à cautela, o Guarda Florestal e a esposa tinham de reserva uma cesta bem composta com aquelas variedades que costumávamos apanhar sem o técnico especialista.  


Pois, nem técnica sem experiência, nem experiência sem técnica.

O mais razoável, penso, será dar também a técnica a quem já tem experiência.


Da leitura mais atenta de Guarda, Os produtos de Cá, fica claro:
O desenvolvimento desta região, e mesmo do país, depende do desenvolvimento da agricultura, uma agricultura familiar e de grande qualidade, adaptada à pequena propriedade.

O modelo de desenvolvimento das cidades, a Guarda é um dos piores exemplos, baseado no enchimento administrativo da sede de concelho, sugando recursos a toda a envolvente, criou esta situação insustentável, está esgotado e, a não se alterar, irá asfixiar, ainda mais, toda a região.

Algumas falácias, como escala, super mecanização, ou a fome no mundo, servem interesses de, senhores feudais a destempo, intermediários e outros vendedores, explorando até à asfixia total, com a ajuda do garrote de um crédito bancário totalmente desajustado das necessidades e ritmos naturais de produção, os agricultores.

Para combater a fome no mundo existem meios e tecnologia, não há é vontade política. A fome tem sido usada, e continua a ser, como arma de destruição em massa.
Os desperdícios dos países mais ricos seriam suficientes para alimentar o resto do mundo.

O calibre, exigido pelas tais grandes superfícies, chega a eliminar mais de sessenta por cento da fruta, fruta excelente, de óptima qualidade, em nada inferior à grande seleccionada, talvez até superior, tem menos água, deixada a apodrecer, ou dada de alimento aos animais.
Uma sociedade irracional. Propositadamente irracional.

Guarda, Produtos de Cá, é também um serviço público, é o ponto de partida, indica o caminho que, há muito, os responsáveis, governo e autarcas, deveriam ter feito, ir ao encontro do mundo rural, ouvir, com atenção e humildade, tudo o que esse mundo tem para lhes dizer e ensinar.

É também um alerta para a defesa das nossas espécies autóctones, bem adaptadas às condições de clima e solo.
Um alerta para a defesa das nossas sementes ancestrais.
Um alerta em defesa da nossa cultura.


Vamos todos ajudar os agricultores da Guarda consumindo os nossos produtos.
Vamos todos ajudar o desenvolvimento da região comprando no comércio local.
Só nós podemos defender a região e o país, não há sebastião que nos valha.
As críticas de café e a luta de sofá não contam, não contam e até ajudam o poder instalado.

Vamos todos seguir o exemplo do Márcio Fonseca e fazer também a nossa parte.

Márcio Fonseca tem toda a minha consideração, pelo que tem feito, pelo que faz e pelo que vai com certeza continuar a fazer.

Obrigado."

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

01 de Novembro 2015


Rio Noéme
Albardo
01 Novembro 2015