"Na aflição das finanças, esquecemos o território" - este é o titulo do editorial do Público de 4 de Março cuja ideia principal é: o país andou décadas a desperdiçar recursos e deixou que demograficamente ficasse desequilibrado na relação interior/litoral.
Nos últimos anos os nossos governantes não pensaram estrategicamente o país. O último vestígio de uma ideia para Portugal, já aqui o disse, pertenceu ao governo do engenheiro António Guterres. De então para cá assistiu-se a um desinvestimento sem precedentes no mundo rural, ao fecho de serviços até então distribuídos pelo país, à saída da população para as cidades do litoral e mais recentemente para o estrangeiro. Nesse período de algum desafogo financeiro, embora artificial, acentuou-se também o movimento de pessoas das aldeias para a Guarda a meia dúzia de quilómetros.
Volto ao exemplo do Rochoso (porque "quem vê o seu povo vê o Mundo todo"). Nos censos de 2001 tinha 343 habitantes. Satisfeitas as necessidade básicas desta aldeia, a primeira década do novo século permitiu o embelezamento da aldeia, a recuperação paisagística de zonas emblemáticas, as estradas de acesso à sede de concelho foram recuperadas, até os caminhos agrícolas alargados. Estas intervenções aconteceram em todas ou na grande maioria das freguesias do concelho da Guarda. Mas a população continuava a diminuir, a vitalidade da aldeia a desaparecer. Se as condições de vida nas aldeias estavam melhores porque se assistiu à fuga das pessoas? Porque se abandonaram os campos? Porque é que terrenos que eram férteis ficaram esquecidos à mercê de mato, giestas e silvas? Arrisco dizer: porque o dinheiro da UE, do Orçamento de Estado, das autarquias foi mal direccionado logo desde a origem e nunca teve em vista o realmente importante, foi distribuído sem estratégia e sem se acautelarem as verdadeiras prioridades. E por se acreditar (todos pensaram isso, pessoas e políticos) que as fábricas duravam para sempre. E nem havia assim tantas fábricas como isso.
"A lição a retirar do desvario em que vivemos nos últimos 15 ou 20 anos, é a de que um país pobre como Portugal não se pode dar ao luxo de desperdiçar recursos". A mesma edição do Público refere num outro artigo que na última década Portugal perdeu 826 mil hectares de solo, hoje completamente estragados devido sobretudo aos incêndios florestais e ao aparecimento de vegetação arbustiva e arbórea. É um país a ficar deserto. Perderam-se pessoas, perderam-se solos férteis, perdeu-se biodiversidade. Termino com a última frase do Editorial: "O que não há é uma visão integrada do território que leve os governos a perceberem que a destruição dos solos numa freguesia remota do interior é um problema que diz também respeito aos dois terços dos portugueses que vivem à beira-mar".
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