“Um rio – conta-nos o empolgado protagonista – é uma entidade caprichosa e poderosa, capaz de irrigar campos, mas também de arrasar tudo no seu caminho. Uma barragem pode moldar-lhe o feitio e proteger a Aldeia de Baixo. Mas, dilema, se retiver demasiada água arrisca-se a inundar a Aldeia de Cima. Para o evitar, os anciões dos dois povoados, numa conversa diplomática com civilizadas evocações de cachaporra, criaram o cargo de Guardião do Rio, função que consiste em fixar atentamente, vinte e quatro horas por dia, o nível da água e abrir a torneira ao mínimo sinal de cheia. Não é uma profissão tecnicamente difícil, mas é muito absorvente, muito, muito solitária. O Guardião não pode ausentar-se…”
O Teatro da Palmilha Dentada apresentou a peça “O Guardião do Rio” no Teatro Municipal da Guarda, em Fevereiro último. Esta peça é marcadamente politica (mais ainda na Guarda) e merecia que tivesse havido debate sobre o tema antes ou depois da apresentação da mesma (não soube que tivesse acontecido).
Em 2016 existe na Guarda um rio poluído que se chama Noémi. Digo que esta peça é política pois nesta cidade, neste concelho, os representantes eleitos pelos Cidadãos para serem “guardiães do rio” demitem-se desta função e deixam que ele continue a ser destruído. A Comunidade delegou o poder de guardar as nossas coisas num executivo camarário que não tem cumprido com essa obrigação.
Ser Guardião do Rio implica gostar dele, senti-lo como seu, ter lá os seus afectos. Ora, Álvaro Amaro, presidente da Câmara com mais de meio mandato cumprido, apareceu por cá nas últimas autárquicas sem qualquer ligação anterior à Guarda, afinidade pela cidade ou o concelho e quando terminar o mandato irá embora. Não se lhe conhecia qualquer actividade, ideia, familiaridade ou relação com a cidade e o concelho. É de Gouveia, foi presidente e aplica as mesmas fórmulas cá como lá ou como faria (fará) se fosse (for) governar outro qualquer concelho do país. Lembro-me dele na política desde os Governos de Cavaco Silva. Não lhe diz nada o Rio Noéme, como não lhe diziam os cedros cortados na Avenida Cidade de Salamanca. Faz na Guarda aquilo que não fará nunca na sua terra.
Para já e em mais de meio mandato cumprido o melhor que tem a dizer sobre a poluição do rio Noéme é: “vamos reunir as partes.” que grosso modo significa que fará como os seus antecessores: nada! Mais um mandato perdido, mais quatro anos com o rio a continuar poluído. Faz realmente falta um Guardião do Rio.
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