segunda-feira, 28 de junho de 2010

Crónica Altitude (08 de Junho 2010)

Na semana passada apanhei o comboio regional no apeadeiro do Rochoso com destino a Lisboa. O apeadeiro do Rochoso foi inaugurado a 29 de Abril de 1924 por influência e insistência do Dr. Alberto Diniz da Fonseca que convenceu os responsáveis dos comboios da época da viabilidade e necessidade daquela infra-estrutura. Para isso organizou um retiro da Liga dos Servos de Jesus na aldeia e naquele dia, o comboio parou e dezenas de pessoas desceram. Estava provada a necessidade do apeadeiro! Em finais da década de 80 a CP tentou fechá-lo alegando que não dava lucro. O povo uniu-se, cortou a linha e o comboio só passou porque vinha escoltado pela GNR. No entanto a batalha foi ganha pois, embora com menos paragens, o comboio continua a parar. Acredito que não dê lucro; mas tem um inestimável valor social e esta é a lição que em tempos de austeridade alguns merceeiros que gerem o bem público devem reter. E também que o poder do bastão quase sempre acaba por sucumbir ao poder da razão.

Nesse mesmo fim-de-semana dei uma volta pelos campos do Rochoso. Finalmente tinha chegado a Primavera e a Natureza manifestava-se: de um lado do caminho saltava um coelho; do outro um casal de perdizes. As maias cobriam de amarelo a paisagem e o centeio ainda verde despontava. Pouco centeio infelizmente… que os braços que o ceifavam e malhavam estão já velhos e sem força. Só à volta do Noéme não existe vida. Pressente-se ao longe que ali corre um rio, mas nada se ouve, nada se vê à sua volta.

Ontem poluíram-nos o rio; amanhã se puderem os merceeiros deste tempo retirar-nos-ão mais qualquer coisa. Sempre sob o pretexto que há pouca gente, que não dá lucro… Hoje lutamos por um Rio que não soubemos defender a seu tempo. Amanhã será por outra coisa qualquer. Mas as nossas aldeias não deixarão de existir sem luta.

Dizia Monsenhor Cónego José Lourenço Pires, antigo director do Seminário do Fundão e meu conterrâneo: “É de duvidar do carácter de uma pessoa que renega ou diz mal da sua terra.” E eu acrescento: E também dos que nada fazem para a defender.


Crónica transmitida na Rádio Altitude no dia 08 de Junho de 2010.

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