Do blogue "Sustentabilidade é Acção"
terça-feira, 27 de março de 2012
sábado, 24 de março de 2012
Amoras silvestres e cogumelos
Li estes dois artigos sobre as amoras silvestres e os cogumelos de Bragança e veio-me à lembrança que na minha infância havia quem apanhasse estes produtos nas silvas e nas matas e os vendesse.
Quando se diz que a agricultura para ser produtiva tem de ser feita em muitos hectares de terreno e altamente mecanizada esquecemo-nos por vezes, que tal como em outras actividades também aqui é preciso imaginação e memória. E por vezes a imaginação não é mais do que falta de memória.
Se olharmos para trás e pensarmos como tiravam rendimento da terra os nosso avós, que produtos tratavam e aonde e de que forma os vendiam, e lhe juntarmos tecnologia actual e ideias novas talvez encontremos algumas respostas. Não concordo com os que defendem que política e economia têm de estar completamente afastadas. Política e economia andam de mãos dadas, da mesma forma que não existe um bom texto sem uma boa bebida. Política é visão e estratégia e pode (deve) dar sinais aos agentes económicos e às populações.
Imagine-se o seguinte cenário: em alternativa à cobrança de impostos extraordinários pelas propriedades que não são cultivadas (cenário que parece estar na cabeça de alguns governantes) porque não se pensa em incentivar (atribuir um preço quase simbólico por metro quadrado cultivado) quem trate pequenas áreas de terreno? E assim em vez de se cultivar só para gasto de casa, tentar também vender o excedente para além do pequeno incentivo que já se recebeu...
Estes "pequenos agricultores" levariam esse excedente para armazéns e mercados locais ou tentariam vender a escolas, particulares, lares... O mesmo modelo de negócio se poderia aplicar aos resíduos da limpeza das florestas. Poderiam, com uma pequena medida a montante, surgir micro-empresas e alguns postos de trabalho nas actividades de transporte, na gestão do armazenamento, na limpeza das florestas, na própria venda. Esta medida simbólica de atribuir um valor ao metro quadrado cultivado, seria um investimento na natureza, no ambiente e nalguma actividade económica. Todos ganharíamos.
Resultante ainda dessa pequena medida, haveria também lugar para que politécnicos e universidades estudassem os produtos endógenos e as espécies que se dão nos nossos terrenos. Recuperada a paisagem e também porque estes territórios recuperados iriam atrair visitantes poderiam ser criados unidades de turismo rural e empresas promotoras de actividades ao ar livre. O próprio território voltaria a ser atractivo para as pessoas e este seria repovoado. etc. etc. etc.
quinta-feira, 22 de março de 2012
domingo, 18 de março de 2012
Reorganizar para nada mudar
Sou contra a proposta que diz ser de "reorganização administrativa do território". Porque não é uma reforma. Por ser uma machadada (não um corte) na representatividade das populações, que não resolve qualquer tipo de problema e por ser feita por quem só conhece o país das campanhas eleitorais, das reuniões de militantes ou das feiras do queijo.
Insere-se na lógica de extinção de serviços e de desinvestimento no território. Puro e duro.
Não é possível fazer isto desta forma num país com oito séculos de história e com relacionamentos e afinidades sociais e culturais entre freguesias. Uma reforma a sério (e com essa eu concordaria) passaria porventura pela extinção das unidades administrativas "distrito" e "concelho" e pela valorização de novos agrupamentos (que não sei como se chamariam ou que identidade jurídica teriam) mas que permitiria às freguesias juntarem-se com base nos laços sociais e de geografia para o governo dos territórios comuns e fronteiros e com competências bem alargadas. Menos do que isto é retirar coisas às populações sem coragem para se mexer naquilo que se deve.
No contexto actual defendo que se mantenham as freguesias tal como estão e que os recursos sejam geridos e partilhados da melhor forma. O que pensam fazer com esta reorganização é como podar uma árvore jovem com machado.
quinta-feira, 15 de março de 2012
"Na aflição das finanças, esquecemos o território"
"Na aflição das finanças, esquecemos o território" - este é o titulo do editorial do Público de 4 de Março cuja ideia principal é: o país andou décadas a desperdiçar recursos e deixou que demograficamente ficasse desequilibrado na relação interior/litoral.
Nos últimos anos os nossos governantes não pensaram estrategicamente o país. O último vestígio de uma ideia para Portugal, já aqui o disse, pertenceu ao governo do engenheiro António Guterres. De então para cá assistiu-se a um desinvestimento sem precedentes no mundo rural, ao fecho de serviços até então distribuídos pelo país, à saída da população para as cidades do litoral e mais recentemente para o estrangeiro. Nesse período de algum desafogo financeiro, embora artificial, acentuou-se também o movimento de pessoas das aldeias para a Guarda a meia dúzia de quilómetros.
Volto ao exemplo do Rochoso (porque "quem vê o seu povo vê o Mundo todo"). Nos censos de 2001 tinha 343 habitantes. Satisfeitas as necessidade básicas desta aldeia, a primeira década do novo século permitiu o embelezamento da aldeia, a recuperação paisagística de zonas emblemáticas, as estradas de acesso à sede de concelho foram recuperadas, até os caminhos agrícolas alargados. Estas intervenções aconteceram em todas ou na grande maioria das freguesias do concelho da Guarda. Mas a população continuava a diminuir, a vitalidade da aldeia a desaparecer. Se as condições de vida nas aldeias estavam melhores porque se assistiu à fuga das pessoas? Porque se abandonaram os campos? Porque é que terrenos que eram férteis ficaram esquecidos à mercê de mato, giestas e silvas? Arrisco dizer: porque o dinheiro da UE, do Orçamento de Estado, das autarquias foi mal direccionado logo desde a origem e nunca teve em vista o realmente importante, foi distribuído sem estratégia e sem se acautelarem as verdadeiras prioridades. E por se acreditar (todos pensaram isso, pessoas e políticos) que as fábricas duravam para sempre. E nem havia assim tantas fábricas como isso.
"A lição a retirar do desvario em que vivemos nos últimos 15 ou 20 anos, é a de que um país pobre como Portugal não se pode dar ao luxo de desperdiçar recursos". A mesma edição do Público refere num outro artigo que na última década Portugal perdeu 826 mil hectares de solo, hoje completamente estragados devido sobretudo aos incêndios florestais e ao aparecimento de vegetação arbustiva e arbórea. É um país a ficar deserto. Perderam-se pessoas, perderam-se solos férteis, perdeu-se biodiversidade. Termino com a última frase do Editorial: "O que não há é uma visão integrada do território que leve os governos a perceberem que a destruição dos solos numa freguesia remota do interior é um problema que diz também respeito aos dois terços dos portugueses que vivem à beira-mar".
sexta-feira, 9 de março de 2012
"O grande problema do país é a morte das aldeias"
"O grande problema do país é a morte das aldeias", quem o diz é Gonçalo Ribeiro Telles neste artigo. Tomando como ponto de partida esse texto, os próximos posts que aqui publicarei serão dedicados a este tema tão premente.
Parto do exemplo do Rochoso da minha infância, algures em finais de 80. Os censos de 91 indicavam que o Rochoso tinha 466 habitantes (menos 100 do que no inicio da década anterior, bem longe dos mais de 1000 habitantes da década de 60). Não preciso recorrer a outras fontes que não a minha lembrança para verificar as profundas mudanças ocorridas de então para cá.
O Rochoso era uma aldeia onde qualquer pessoa tirava algum rendimento da terra assim o quisesse. Fosse de centeio ou de batata. As fábricas de lacticínios vinham recolher o leite das vacas. À noite, havia fila de gente junto à loja que se construiu para se efectuar essa recolha. Trabalhavam diariamente à hora, três ou quatro tractores e ceifadeiras, lavrando e ceifando aqui e ali. No Verão instalava-se uma malhadeira mecânica nas eiras e só saía de lá quando todo o centeio da aldeia estivesse malhado. Qualquer canto, com mais ou menos terra fértil, era cultivado. Os velhos de hoje, mantinham na altura a vitalidade económica da aldeia. Havia mercado que aceitava o excedente produzido. Os novos de então começavam a procurar outras fontes de rendimento nos sectores secundário e terciário.
Na Guarda governava o presidente Abílio Curto conhecido como "o presidente das aldeias". Lembro-me de grande parte do seu mandato e da sua queda. Levou o saneamento básico às aldeias (todas ou quase todas), mandou fazer explorações para que a água potável chegasse canalizada às casas e a partir de certa altura, pelo menos no Rochoso foi assim, os grandes anseios passaram a ser a construção de sedes condignas para as juntas de freguesia e a construção de poli-desportivos em todas as aldeias. Foi nessa altura que se descobriu a poluição do rio Noéme, vítima de esgotos domésticos e industriais. E já depois dessa evidência ainda foi feito um poço no Rochoso para captação de água para a povoação.
No país governava Cavaco Silva e começavam a chegar os primeiros fundos comunitários a Portugal. Nessa fase o dinheiro que chegou ao Rochoso serviu essencialmente para a destruição de algumas culturas (lembro-me de algumas vinhas). Esta medida teve um duplo efeito social: positivo, porque esse dinheiro permitiu um rendimento extra (a juntar ao da reforma) aos mais velhos de então e nalguns casos algum conforto e descanso que nunca tinham tido na sua vida passada a trabalhar sem direito a um dia que férias que fosse; negativo, porque destruiu completamente a capacidade produtiva (mesmo a de subsistência), tirou as pessoas das actividades do sector primário e criou a ideia nos jovens de então que a agricultura não tinha futuro. Mesmo quando essa tinha sido a única actividade económica de relevo até então. Na paisagem os danos foram irreparáveis: quando se deixaram de cultivar os campos (os de longe e os perto de casa) permitiu-se que houvesse com mais frequência incêndios florestais (de ano para ano a chegarem mais próximo da aldeia), a floresta desapareceu e com ela a biodiversidade, os caminhos agrícolas tornaram-se intransitáveis remetendo alguns lugares para o mais profundo isolamento, aos terrenos abandonados e por cultivar foi roubada a pedra das paredes que davam sentido à palavra "propriedade" tão enraizada naquele povo.
Continua...
quarta-feira, 7 de março de 2012
"Um Dia, Um Guarda-Chuva", de Davide Cali e Valerio Vidali
Ilustração retirada do livro "Um Dia, Um Guarda-Chuva" de Davide Cali e Valerio Vidali editado em Portugal pela Planeta Tangerina.
segunda-feira, 5 de março de 2012
2013
As próximas eleições autárquicas serão em 2013. Se ainda houver câmaras municipais, se ainda houver Guarda (se ainda houver Portugal?) alguém há-de apresentar-se para nos governar. Seria inadmissível que fruto de uma gestão política hábil, as obras de construção da estação elevatória que tem como objectivo reencaminhar os resíduos poluentes para a ETAR de S. Miguel fossem convenientemente concluídas nesse ano, de preferência próximo da data do escrutínio.
Seria porventura tentador apresentar a despoluição do rio Noéme como bandeira eleitoral. Seria de uma grande lata, mas possível contudo de ocorrer. A poluição continua e cada dia que passa é mais um dia em que o problema não foi resolvido, é mais um dia de atraso sobre um problema que já não devia acontecer.
Se este hipotético cenário ocorresse, as populações afectadas pelo problema só poderiam reagir democraticamente de uma forma: boicotando as eleições.
domingo, 4 de março de 2012
Praias e maravilhas da Guarda
Já tinha falado deste tema aqui e aqui. A lista final das candidatas tem como representante da Guarda a praia fluvial de Valhelhas.
Vamos todos unir-nos e fazer desta candidatura a vencedora. Se há coisa que caracteriza a Guarda são as águas maravilhosas do seu concelho.
quinta-feira, 1 de março de 2012
130
Passaram 130 dias desde que a Câmara Municipal da Guarda anunciou o concurso para construção da Estação Elevatória Quinta da Granja.